Neste 09 de junho apresentamos texto de nosso Amigo Genial, Luiz Cláudio Bittencourt, que como sempre nos encanta com suas histórias. Saudações amigo Dunga…

Hoje acordei triste e custei a descobrir o que me incomodava – saudades que amanheceram ao meu lado. De amigos e familiares que já se foram e levaram com eles coisas que nunca conseguirão fazer sentido sem as suas presenças. Esta é a parte dura das perdas! Do prosear com o meu primo Neto sobre as nossas infâncias no Sossego e pescarias no Arquipélago de Santana. Esse papo é nosso, só nosso! Do assobio do amigo Alírio, que estudou comigo, quando me via na rua – consigo escutá-lo com perfeição! Dos assobios também do meu pai e do amigo Mimiu a me chamarem. Tempo de assobios de bico, hoje já existem os celularizados!

Das gargalhadas do velho Dácio Lobo a contar casos que o divertiam tanto, e a nós também! Do aconselhamento de Dona Nenéia, esposa dele, para eu deixar a bebida. Coisa que realizei alguns anos depois. E do Dacinho me chamando de Dunga Quizumba! Isso porque já fui um pouco encrencado! Saudades da Rua Vereador Abreu Lima em tempos de eu menino! Tempos de “jambinho”! Linda e moreninha que só ela!

Do tempo em que eu ia ao nosso sítio e, ao chegar, o meu pai de longe gritava – “Ô Dunga!” Quanta felicidade vinha junto com esse grito! Passava o dia com ele, me deliciava com a gostosa comida da Adriane, filmava pássaros, escutava algumas lembranças do Zé, e voltava, bem à tardinha, feliz da vida. A nossa relação era meio difícil, mas passei por cima de tudo isso em prol de tornar, os últimos dias de sua vida, bons para nós dois. E assim consegui. Poucas vezes cruzei aquela porteira depois que ele nos deixou, e tantas coisas também foram embora junto!

Da nossa querida amiga Laurita cuidando do seu jardim. Ganhei de presente da Paula (veterinária) a placa que dava nome aquele pedacinho de poesia em forma de flores. E da Laurita que, em minha lembrança auditiva, tenho muito bem guardado o som de sua voz. Tive a missão de ter sido, quase certamente, um dos últimos, sem ser da família, a vê-la antes de nos deixar. Lembro-me quando ela olhou para mim, agarrada em minha mão, e disse: “Não me deixe morrer!”. Era tarde de visitas e eu estava lá. Isso ressoa em meus ouvidos até os dias de hoje. Ela adorava viver e provavelmente pensaria feito o Chico Anísio – “Eu não tenho medo de morrer, tenho é pena!”.

Do meu querido amigo Zé Maria Mendonça, casado com Dona Cici, como eu gostava de conversar com ele. Nesse tempo, eu estava escultor e falávamos dos tipos apropriados de madeiras às esculturas, de ferramentas, da bancada que ele havia comprado e que pertenceu ao pai do Lucas Vieira, o senhor Manduquinha que era marceneiro. A Naidia falava para mim: – O Zé Maria quando passa aqui em casa para falar alguma coisa da biblioteca, já sei, quer visitar o nosso pé de bertalha! Como gostávamos dessa visita! Grande Zé que nos deixou muito cedo! Outra gargalhada marcante em nossa cidade era a do Lucas Vieira, o nosso músico prodígio!

Saudades da minha avó Noêmia a costurar saquinhos de areia para eu usar, em meu caminhãozinho, como cargas de arroz. E de um tipo de sonho que só ela sabia fazer! E do primeiro paco-paco que comi em minha vida, feito com ovo cru, canela, farinha de mandioca, açúcar e muito amor. Minha avó, católica fervorosa, escorraçada por um padre que achava que a doutrina espírita não era coisa de Deus. O meu avô Waldemiro Bittencourt era um dos trabalhadores dessa doutrina em Macaé, e a sua vida sempre foi norteada pela palavra caridade. O padre falava mal da doutrina olhando para minha avó, segundo relatos da minha tia Weny. Ainda teremos que tolerar por muito tempo essas posturas tão equivocadas, referentes a tantas coisas! Mas os novos tempos estão chegando e, com eles, a presença dos novos Franciscos!

A Noêmia permaneceu sempre católica sem nunca titubear quanto à sua orientação religiosa, e que era respeitada pelo meu avô. Cobrou de mim uma primeira comunhão que foi feita. Foi um tempo bom de estudos do catecismo com a Dona Hilda, na igreja São João Batista, junto com um monte de anjinhos da minha idade!

Saudades do rio Macaé que, apesar de estar presente em nossa paisagem, também foi embora! Dos robalos que passavam por de baixo da ponte, o banho dos moleques em tempos de águas limpas, os mergulhos da ponte de cimento, as pescarias de siri na muralha, os cardumes de sardinha subindo a correnteza – que saudade! De pescar camarões pitus com anzol mosquitinho – esse imenso exercício de paciência! Como era bom ficar ali a escutar o rio em algumas de suas histórias.

Saudade da casa de minha avó Layde! Quando sentávamos em torno de uma grande mesa a ouvir histórias do tempo das fazendas do meu avô Júlio, da onça que cruzou o seu caminho e de como o meu pai conheceu minha mãe quando ela era professora em Conceição de Macabu.

Eu acho que, na realidade, eu andava mesmo era com saudade de sentir tão profundas saudades, que são preces àqueles que tocaram o meu coração! Viajar em lembranças que poderiam ser muito mais do que foi escrito, mas que não caberiam no espaço de uma crônica.

Hoje, ao abrir o computador, encontrei uma feliz notícia que veio da minha amiga Aurora, do grupo AS CIGARRAS DE MACAÉ. Comunicou-me que, no primeiro domingo de cada mês, terei espaço (na coluna delas, no jornal O Debate) para falar de coisas de minha alma, o que me deixou muito feliz e honrado. O meu muito obrigado ao jornal e a elas!
cigarrasmacae@gmail.com.