Coluna Cigarras de Macaé

CIGARRAS DE MACAÉ – Neste 9 de fevereiro, apresentamos texto que nosso querido Amigo Genial, Dunga, Luiz Cláudio Bittencourt, sempre nos surpreendendo com sua memória…

O METAL DA FELICIDADE
Luiz Cláudio Bittencourt

Um dos meus primeiros contatos com o dinheiro foi através de uma mesada que eu recebia da minha mãe para varrer o quintal, molhar as plantas, tratar das galinhas, e colocar o lixo para fora. E isto eu cumpria religiosamente porque, se não, era um tremendo trelélé na minha orelha, com possibilidades de cantigas de chinelo! A dona Yvone não era fácil! Outras opções, também para fazer dinheiro, era vendendo jornais antigos nos armazéns, ferro velho, garrafas, limão e aipim do nosso sítio. E assim eu ia tomando gosto por um honesto ganho, o meu primeiro dinheiro!

Certo dia, comentando isto com dois amigos de classe social menos favorecida, disseram que carregando malas na estação ferroviária ganhavam muito mais do que eu conseguia vendendo estas porcarias. Aí o meu olho cresceu! Um dia, depois das aulas, fui até lá para conferir se era verdade o que eles diziam, e era! Os dois faturaram um dinheirinho legal, carregando algumas malas e pacotes a uns poucos quarteirões de distância da estação.

Aquilo ficou matutando em minha cabeça até que um dia resolvi também tentar este ganho, mas, com muito medo dos meus pais descobrirem e criarem um caso, pois, a nossa situação era boa e eu não precisava encarar essa estiva! Mas, havia uma finalidade neste trabalho, eu queria comprar o meu primeiro equipamento de mergulho e deliciar-me nas poças da Praia do Cavaleiro vendo sargentinhos, marimbas, outros peixes e crustáceos. E assim tomei a decisão de tentar.

Chegou o dia! Esperei o trem parar na estação e aproximei-me da plataforma. Logo após saltar uma senhora acompanhada de sua gorda mala, adiantei-me perguntando: – deseja carregador? Ela olhou para mim com ares de pouco caso, perguntou quanto eu cobraria, e topou. Perguntei qual seria o destino, e ela respondeu que o caminho seria indicado. Pensei, será que vai para Rio das Ostras? Com certa dificuldade, coloquei a bitela da mala na cabeça e partimos para o lugar de entrega. Passamos o primeiro quarteirão e ela só dizia: siga-me!

E lá vem outro quarteirão: siga-me! E comecei a suar e sentir uma tremenda dor no pescoço: siga-me! Mais depressa, menino! Siga-me! E fui tomado por uma tremedeira nas pernas, arrependimento no coração e no bolso, e vergonha porque Dona Marieta, esposa do Seu Tomé, havia me visto enrolado naquela situação. Aí fui eu quem tomou uma decisão! Arriei a mala no chão, suspirei profundamente, escutei o último “vamos, siga-me!”, e impulsionado por duas pernas já um tanto o quanto fraquejantes, desabei rua abaixo e sem olhar para trás.

Que vergonha, que fracasso, que lição! E retornei aos trocados dos jornais, garrafas, mesada, limões e aipins! E o material de mergulho ficou mesmo aos cuidados de Papai Noel, afinal de contas, para que servem os Natais?
Levei um bom tempo sendo sacaneado por causa desse fracasso econômico!

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Aurora Ribeiro Pacheco