Sentir-se pertencente a um grupo. Sentir-se pertencente a uma situação. Sentir-se pertencente ao que acontece no trabalho. Sentir-se pertencente ao que acontece nas situações da cidade. Sentir-se pertencente a uma conversa.

Sentir-se pertencente ao amor do outro. Sentir-se pertencente a uma amizade. Sentir-se pertencente a si mesmo.

São tantas as formas de podermos sentir o afeto de pertencimento. Mas, quando é que nos sentimos pertencentes à vida de verdade? Podemos ver as pessoas que são pertencidas pelas redes sociais. Elas ficam mais tempo em contato com as imagens das telinhas do que com as pessoas que estão ao seu lado. Não canso de ver famílias ou pessoas que estão juntas, mas, tão separadas.

Estão caminhando juntas, estão numa mesa de um bar. No entanto, separam-se no instante em que o sentimento mais forte é o de pegar o celular para se ‘conectarem’ às mensagens ou às redes sociais. Ficam ali por longos minutos ou quase o tempo todo em que estão juntas. Parece que o que é mais interessante é o mundo que está do outro lado e que chega na telinha do celular.

O que está presente, diante dos seus olhos, de suas percepções, parece não afetar. Parece que o mundo que está diante de si não tem vida. O que tem vida é o que chega em imagens, textos, sonoridades, palavras que chegam do além. Passam a se viciar naquilo que está ‘lá’, num outro lugar, em detrimento daquilo que está aqui-e-agora, diante delas.

As formas de sentir, as formas de fazer contato vão produzindo uma forma de consciência que se vicia, se habitua em anestesiar o que está presente aqui-e-agora. O presente passa a ser a telinha do celular. Desta forma a qualidade dos sentidos, a qualidade da consciência passa a se mecanizar e a se tornar insensível ao que se passa diante de si. A mente-corpo passa a ser mais sensível à realidade IN VITRO das telinhas do celular.

A realidade IN VITRO é aquela que encontramos em laboratórios, em pesquisas que estão distantes da vida do lado de fora. Assim, as pessoas passam a sentir que a vida está naquilo que chega nas telinhas do celular. Deixam de desenvolver contatos com qualidades vitais, ou seja, contatos IN VIVO. Os contatos passam a ser possíveis atrás das telinhas, ‘pois assim é mais fácil poder sair do contato quando se quiser’, me disse uma pessoa.

A forma de subjetividade, a forma de sentir, pensar e de estar no mundo que se produz pela forma de se sentir pertencente ao mundo através das ‘realidades IN VITRO’ é aquela que não sabe lidar com as incertezas da vida. São pessoas que não desenvolvem capacidades de se ajustarem às novas situações. Parecem viver em ‘bolhas de realidade’, me disse uma outra pessoa. Assim, vão construindo contatos onde ‘pode-se ter o controle’, me disse uma outra.

A forma de pertencimento ao mundo, às relações passa a ser construída de forma artificial. A realidade IN VITRO oferece sensações e sentimentos de um certo pertencimento. Quando se desejar aliviar uma tensão é só pegar o celular e ‘tomar a dose diária do face-tril’. O Face-tril é a versão contemporânea para a anestesia dos afetos de angústia, ansiedade, dúvidas, assim como se faz com o uso abusivo do Rivotril.

São raras as pessoas que não fazem o uso abusivo do facebook e de outros ambientes virtuais. Quando se sente um pouquinho de solidão, quando se sente um pouquinho de ansiedade por alguma questão, o caminho será tomar mais uma ‘dose’ das imagens, notícias, ou da busca de uma resposta daquela mensagem no Watsapp. As pessoas passam a ser pertencidas pelo vício diário destes ambientes.

Pertencer-se a si mesmo. Pertencer ao encontro que se faz aqui-e-agora com os outros. Pertencer ao mundo que está pulsando do lado de fora das telinhas dos celulares. Este é um dos desafios para a construção de uma vida de verdade. Este é um dos caminhos para olhar a vida de frente, com coragem e sem precisar de alívios artificiais. Que tal entrar em contato com o sol que nasce, com uma música e poder dançar com alguém que você gosta. Sinta! O mundo te espera!

Abraço,
Paulo-de-Tarso