Em painel do Fórum Econômico Mundial, ministro da Economia destacou vantagens competitivas do país na recuperação da crise causada pela pandemia e pela guerra na Ucrânia

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta quarta-feira (25/5) que o Brasil, provavelmente, vai se livrar do problema da alta da inflação e vai crescer antes das nações desenvolvidas. O cenário traçado será motivado pelo controle fiscal e pela ação rápida do Banco Central (BC) em subir os juros no momento certo.

As declarações do ministro ocorreram durante o painel do Fórum Econômico Mundial sobre “As Perspectivas da Dívida Global”. Em sua exposição, Guedes apontou que o BC brasileiro está “à frente da curva” em relação a outras instituições internacionais, como o Federal Reserve (FED, o banco central dos Estados Unidos) e o Banco Central Europeu (BCE).

Guedes explicou que a ideia-chave no combate à crise econômica causada pela pandemia da Covid-19 foi a realização de reformas junto à criação de gastos temporários para atender às demandas de saúde e de atenção à população. Além disso, segundo ele, em vez de crescer até 8% com um déficit muito grande, o governo retirou todos os estímulos fiscais, implantando uma política fiscal e monetária de ajuste rápido após os gastos com a pandemia. “Pela primeira vez, nós congelamos todas as despesas. Nós gastamos mais em saúde, mas menos em todas as outras contas”, frisou.

Nesse contexto, o país conseguiu evitar que a dívida pública ficasse acima de 100% do Produto Interno Bruto (PIB), como apontavam as previsões do mercado, baixando para 78,5%, segundo dados mais recentes. O ministro também lembrou que as previsões de crescimento da economia mundial estão sendo revisadas para baixo, mas que, no Brasil, as estimativas estão subindo e a expectativa é de um crescimento de 2% do PIB neste ano.

Quatro choques

Na visão do ministro da Economia, hoje o mundo enfrenta quatro choques – o fim da arbitragem trabalhista global, a ruptura das cadeias globais de suprimentos, a guerra na Ucrânia e a consequente alta dos preços de alimentos e energia.

Paulo Guedes também reforçou a vantagem do Brasil em meio a essas mudanças por estar mais perto dos Estados Unidos e da Europa (nearshore) e por ser, ao mesmo tempo, um país amigável (friendshore), com democracia consolidada e economia de mercado. Dessa forma, o Brasil se candidata a suprir as nações ocidentais em meio à reconfiguração das cadeias de valor.

Ele apontou que o governo aproveitou a crise da pandemia para acelerar a modernização dos marcos regulatórios, mencionando as áreas de cabotagem, telecomunicações com 5G, infraestrutura, óleo e gás, além do saneamento. Como resultado, o país já tem US$ 200 bilhões em investimentos contratados para os próximos 10 a 12 anos.

Futuro verde e digital

Outro ponto em que o Brasil vai se destacar, de acordo com o ministro, é na economia verde e digital do futuro. “O futuro é verde. O futuro é digital. Nós estaremos lá”, garantiu.

Nesse sentido, citou a digitalização dos serviços do governo federal e os avanços na produção de energia limpa – como a eólica e a solar –, que hoje respondem por 15% do total nacional. Guedes enfatizou que essa participação pode dobrar, com a parceria de companhias da Dinamarca, Espanha e Alemanha, que já mostraram interesse em investir nessa área.

O ministro esclareceu que o Brasil tem 65% de energia hidrelétrica, 10% de eólica, 5% de solar e 5% de nuclear. “Então, 80% é energia limpa. Quem vai produzir hidrogênio limpo para a Europa? Porque eles não podem depender do gás natural russo. Nós somos os candidatos. Então, quem produz energia eólica vem para o Brasil”, observou, prevendo que o Brasil deverá se tornar “um gigante nesse futuro de energia limpa e barata”.

Abertura sem protecionismo

Guedes também mencionou o processo de acessão do Brasil à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e falou da relevância do país no atual momento de reconfiguração global de cadeias produtivas.

Segundo o ministro, no começo do século o Brasil tinha uma balança comercial de US$ 2 bilhões anuais com a França e de US$ 2 bilhões com a China, mas agora são US$ 120 bilhões por ano com a China e apenas US$ 7 bilhões com a França, o que é um valor “irrelevante”.

Ao final do painel, o ministro Paulo Guedes destacou que o Brasil está abrindo a economia, reduzindo tarifas de importação e ganhando mais eficiência, enquanto no resto do mundo há protecionismo. “Então, nós chegamos tarde na festa, mas nós estamos muito animados”, declarou.

O painel “As Perspectivas da Dívida Global” foi conduzido pela âncora da rede de TV CNBC Sara Eisen, e também teve a participação do ministro de Economia e Finanças da Itália, Daniele Franco; do diretor-executivo e administrativo do Banco de Desenvolvimento da África Austral, Patrick Khulekani Dlamini; e da primeira vice-diretora administrativa do Fundo Monetário Internacional (FMI), Gita Gopinath.

Por Portal Novo Nortel