Vivemos tempos onde o pedido de desculpas torna-se coisa rara ou, quando acontece, torna-se algo trivial, corriqueiro. É o motorista que encosta no carro do outro e sai de qualquer jeito, sem ao menos, pedir… ‘desculpas’.

Vivemos tempos onde o outro ser humano é visto como um objeto. Pessoas são vistas como coisas… Passar por cima do outro torna-se coisa corriqueira, trivial. Pedir desculpas pode ser o vício de cada dia em muitas relações. Magoar o outro e, depois, dizer: ‘desculpa’…, pode ser o vício de cada dia em muitas relações e situações. Dizer ‘desculpa’ pode ser o caminho mais curto para acomodar as coisas. No entanto, um pedido de ‘desculpa’ pode ter uma função de ‘aliviar’ as coisas. Assim, muitas relações amorosas vão se fazendo. Ele, habituado em responder sua amada de qualquer forma, depois de um tempo vai lá e diz: “desculpa”. Isso pode ocorrer com ela também. As ‘desculpinhas’ passam a ser caminhos para que os verdadeiros ‘contatos’ não se façam.

No entanto, vemos pessoas que vivem a vida dando desculpas. Elas são especialistas em se desculpar a si mesmas. Dão desculpas para tudo e todas as situações. Se acaso deixaram de fazer algo, terão uma desculpinha. Se acaso precisam fazer algo que irá dar trabalho, terão sempre uma ‘desculpinha’ na ponta da língua. Elas se viciaram em dar desculpas. Elas são especialistas daquilo que não dá certo em suas vidas. No entanto, não conseguem fazer ‘contato’ com estas formas de organizar suas vidas, dando-lhes novas orientações, novas direções, novos caminhos.

Vemos outras formas de desculpas: são aquelas feitas pelas pessoas que são algozes de si mesmas. Elas não conseguem ser leves, não conseguem dizer ‘desculpas’ a si mesmas. Elas se culpabilizam o tempo todo. A sensação é a estarem devendo sempre algo. Não podem relaxar. Não podem ficar um minuto sem fazer ‘nada’. O fato de estarem escutando uma música, lendo um livro, ou mesmo, relaxando no sofá, tudo isto produz uma sensação de angústia e de ansiedade. Elas trazem consigo os introjetos das ‘leis’ que engoliram durante toda uma vida: “tá sem fazer nada?! Vai pegar na vassoura!”; “Você não faz nada mesmo!”; “Você é um imprestável”, ou termos e expressões que são escutados durante várias experiências e que se transformam em ‘introjetos’, em ‘leis’ que se transformam sem sensações e emoções sob forma de injunções, de ordens, de ‘comandos’, só que agora, não mais através das palavras vindas de uma outra pessoa: o corpo é quem expressa estas informações sob forma emocional. Estas pessoas se sentem ‘culpadas’ permanentemente se elas se sentem felizes, leves, vivendo a vida com fluidez.

Curiosamente, a palavra ‘desculpa’ é feita por ‘des’ e ‘culpa’. Ela foi feita para se retirar o peso da culpa. É um apelo feito ao outro para que ele possa ‘retirar’ a culpa sentida por um outro que tenha cometido uma ‘infração’, um ato danoso.

Mas, o que vemos já faz um bom tempo é que a força afetiva desta palavra vem perdendo sem sentido afetivo. Ela vem sendo utilizada como mais uma das ‘palavras gastas’ que perdem a sua força e potência no trato dos vínculos sociais. Ela tem a sua importância como um dos afetos sociais importantes para a admissão de uma responsabilidade de algum dano feito a um outro. É um afeto que busca refazer um novo ‘contrato’ relacional com uma outra pessoa ou situação vivida. Viver a culpa sem uma ‘desculpa’ pode ser algo insuportável. Reconhecer o que precisa ser mudado numa relação é um dos caminhos para que a vida não seja vivida movida por ‘desculpas’. Será reconhecer que podemos sair de nossas redundâncias, de nossas repetições habituais onde as ‘desculpas’ passam a ser a nossa ‘grande desculpa’ para viver a vida.

Fazer contato com o ‘hábito das desculpas’, em suas diversas faces e semblantes, será reconhecer que podemos lidar de forma mais verdadeira conosco, com os outros e as diversas situações de nossas vidas. Quer aprender a viver uma vida singular e sem as ‘desculpas habituais’. Venha para o ‘Atelier da Vida’. Nosso contato: paulo.tarso.peixoto@gmail.com <mailto:paulo.tarso.peixoto@gmail.com>

Abraço forte,
Paulo-de-Tarso