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Com a pandemia, Brasil sofre retrocesso e volta a ter o mesmo nível de evasão escolar de 20 anos atrás. Para especialistas, o papel dos professores é fundamental para mudar esse quadro

Durante as próximas semanas, os alunos da rede estadual e privada de ensino estarão de férias. Entretanto, o trabalho dos profissionais de educação não para, pois já estão focados no planejamento para o próximo semestre.

Desde a pandemia da Covid-19, a volta às aulas tem sido uma preocupação frequente para os especialistas da área. Segundo estudo publicado em 2021 pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em parceria com o Cenpec, em novembro de 2020 mais de 5 milhões de estudantes brasileiros não tiveram acesso à educação — número semelhante ao que tínhamos no início dos anos 2000. Desse total, mais de 40% eram crianças de 6 a 10 anos, etapa em que a escolarização, antes da Covid-19, estava quase universalizada. Outro estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas corrobora para dados alarmantes, principalmente quando se trata de crianças do ensino fundamental – a taxa de evasão escolar na faixa de 5 a 9 anos aumentou de 1,41% para 5,51% entre os últimos trimestres de 2019 e 2020. O pior foi no terceiro trimestre de 2021, quando a taxa de evasão passou a ser de 4,25%, cerca de 128% mais alta que o observado no mesmo período de 2019.  

O abandono dessas crianças e jovens está, entre outras coisas, diretamente ligado à ampliação da pobreza. Para milhões de famílias, ter comida na mesa passou a ser uma prioridade. Outro ponto fundamental são as metodologias assumidas pelas redes de ensino para manter o vínculo entre escola e alunos. “Os professores são peças importantes para evitar a evasão escolar, mas também precisam estar preparados e fortalecidos, já que a principal dificuldade hoje está em trazer os alunos para o mesmo nível de aprendizagem, pois as realidades foram muito diferentes durante a pandemia”, diz Ana Ligia Scachetti, pedagoga e Diretora de Educação da Nova Escola, referência no desenvolvimento de conteúdo para professores desde 1986.

“É preciso que eles criem estratégias didáticas para envolver os estudantes nas atividades diárias, porém, de forma personalizada. A Recomposição de Aprendizagem é o melhor plano para lidar com as defasagens educacionais. Usando avaliação diagnóstica, planejamento e acompanhamento individualizado, os educadores conseguem identificar os problemas e apoiar o aluno no seu desenvolvimento, evitando a evasão”, continua Ana Ligia.

Criatividade como alternativa 

A criatividade pode ajudar, e muito, os professores nessa batalha. Linaldo Luiz de Oliveira, um dos vencedores da 24ª edição do Prêmio Educador Nota 10, desenvolveu um projeto que utilizou elementos culturais, que fazem parte do universo dos alunos, para estudar as riquezas da caatinga. Atuando como pesquisadores, os estudantes investigaram práticas de caça da cidade, aspectos da ecologia cultural e a biodiversidade da região onde estão inseridos. Esses estudos culminaram na criação de “fakemons”, nome dado aos personagens criados por fãs da franquia Pokémon, baseados em animais típicos do bioma predominante na Paraíba. Para o professor, além de desenvolver habilidades curriculares, o projeto ofereceu uma experiência positiva e prática para os estudantes. “Os alunos ficavam motivados e se sentiam representados ao estudarem aspectos do seu entorno, com elementos da cultura que consomem”, explicou Linaldo. 

“Pode parecer simples, mas atividades como essa engajam os alunos de uma forma que todos fiquem na mesma página de conhecimento. Cabe ao professor ir orquestrando essas habilidades individuais, com um bom plano de desenvolvimento, para chegar aos melhores resultados de cada estudante”, diz a pedagoga.

Expectativa para agosto

Para agosto, a expectativa não é repetir o aumento da taxa de evasão escolar como a que aconteceu na comparação dos segundos semestres de 2020 e 2021 – um salto de 2,3%, para 5%, de acordo com o Censo Escolar da Educação Básica. “Na Nova Escola, temos um relacionamento bem próximo com milhares de professores. A maioria tem se mostrado mais otimista, graças a união de alguns fatores, como a volta da normalidade na rotina escolar, os resultados de diversas ações focadas em metodologias ativas (não deixar que o abandono se torne evasão escolar) e o fortalecimento de vínculos com os estudantes, em ações voltadas para o desenvolvimento de competências socioemocionais”, finaliza Ana Ligia.

Sobre a Nova Escola

A Nova Escola é uma organização de impacto social, sem fins lucrativos, que tem como missão fortalecer educadores para transformar a Educação pública brasileira e possibilitar que os alunos desenvolvam o máximo de seu potencial. Referência absoluta no desenvolvimento de conteúdo para professores desde 1986, quando atuava no segmento de revista impressa, em 2015, com o apoio da Fundação Lemann, transformou-se em uma plataforma digital, com mais de 3,1 milhões de acessos mensais. Produz Reportagens, Cursos autoinstrucionais, Formações, Planos de Aula e Materiais Educacionais, gratuitos, para apoiar professores, coordenadores pedagógicos e diretores que atuam na Educação Básica das escolas públicas brasileiras. Saiba mais em www.novaescola.org.br.