Em entrevista à jornalista Renata Lo Prete, do G1, Francisco Esteves alertou sobre os riscos do aumento da poluição dos rios Paraíba do Sul e Guandu - Wanderley Gil (Arquivo)

O professor e biólogo Francisco Esteves foi um dos docentes da UFRJ que realiza o estudo técnico da água oferecida pela ETA Guandu, que abastece a capital fluminense e o Grande Rio

A crise na segurança hídrica no Estado do Rio de Janeiro se tornou um dos assuntos mais comentados no país desde que a água que abastece a capital fluminense e a região metropolitana começou a apresentar problemas na sua qualidade.

Diante da dúvida que vem assolando a população, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) solicitou, recentemente, a um grupo de docentes que desenvolve suas linhas de pesquisa em assuntos relacionados à ecologia aquática, recursos hídricos, saneamento e saúde pública, a elaboração de nota técnica contendo constatações e recomendações.

Um deles é o Vice-Diretor do Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade Nupem/UFRJ, o professor e biólogo Francisco Esteves, que explicou um pouco sobre os riscos que a falta de investimento em saneamento básico podem gerar a curto, médio e longo prazo. A entrevista foi dada à jornalista Renata Lo Prete, do G1, na semana passada.

Francisco comentou sobre a presença da Geosmina, substância que a Cedae atribui as alterações na água que chega aos domicílios de cerca de 9 milhões de pessoas todos os dias.

“Ela é um composto orgânico liberado por algas em ambientes altamente poluídos. É apenas um dos vários compostos que essas algas, chamadas pelos cientistas de filamentosas, que crescem em ambiente rico em compostos de esgoto que tem fosfato e compostos de nitrogênio”, explica.

O vice-diretor do Nupem ressalta que, de fato, a Geosmina não apresenta riscos à saúde humana, no entanto, alerta para o risco da presença de outros componentes na água que, esses sim, são nocivos à população.

“A Geosmina é um excelente indicador de degradação ambiental porque junto dela indica a presença de outros compostos vindo com o esgoto, como hormônio, pesticidas, inseticidas, restos de antibióticos, todos aqueles lixos hospitalares e industriais que são lançados nos cursos dos rios Paraíba do Sul e Guandu’, diz ele ressaltando que a água que abastece a região metropolitana é nada mais, nada menos, do que água com esgoto diluído. “A triste notícia é essa. Nós não temos água vinda de mananciais límpidos. Este que é o grande problema. Isso que está acontecendo era totalmente previsível, esperado, sobretudo em época de verão, quando a temperatura da água se eleva e favorece o crescimento desses organismos em ambientes ricos em nutrientes oriundos do esgoto”, alerta.

Francisco alerta que os problemas, se não forem sanados de forma séria, podem se tornar ainda maiores no futuro. “Estamos vivendo agora a crise da qualidade da água e, em breve, teremos a crise da quantidade de água. A soma da degradação ambiental com o consumo inconsciente e mais a degradação da empresa que gerencia o recurso hídrico, a Cedae, utilizando sistema de tratamento bastante antigo, temos uma água que é tratada precariamente. Colocar carvão ativado é um procedimento muito antigo, que o Brasil todo já usa. Foi uma surpresa saber que a empresa já não utilizava isso antes. Isso quer dizer que estamos vivendo no Brasil, principalmente aqui na cidade do Rio de Janeiro, a degradação da qualidade da água”, avalia.

Questionado sobre quais deveriam ser as prioridades nesse momento de crise, Francisco fez algumas observações. “Urgentíssimo é tratar a água com qualidade, oferecendo a sociedade uma água sem cor, sem sabor e sem cheiro. A médio e longo prazo é sanear a bacia hidrográfica. Do contrário, nós vamos tratar agora com antibiótico mas a fonte de febre continuará”, finalizou.

Lembrando que Macaé não faz parte dos municípios abastecidos pela ETA Guandu, ou seja, até o momento não há nenhum incidente de problemas na qualidade da água oferecida na cidade pela Cedae.

A nota técnica emitida pela UFRJ pode ser conferida no link: https://ufrj.br/sites/default/files/img-noticia/2020/01/nota_tecnica_-_caso_cedae.pdf.