Ao longo dos tempos os homens precisaram construir muralhas para defender seus povos. Mesmo assim as muralhas foram atravessadas e derrubadas pelas guerras. De uma muralha a outra o que vemos é o desejo de defesa contra o indeterminado, contra aquilo que possa perturbar a ordem da vida de uma dada sociedade.
Ao longo dos tempos os homens precisaram construir seus poderes. Em nome de uma vida comum, os homens construíram seus Estados. Em nome do Estado produziram guerras contra outros povos. De um Estado a outro o que vemos é a produção de guerras onde aqueles que estão em seus gabinetes não estavam diante das balas. Decidiam sobre a vida e a morte sentados em confortáveis ambientes, longe do sangue, da lama, dos gritos de terror.
Ao longo dos tempos os homens precisaram construir ideias para contaminar as mentes dos seus povos. Precisaram contaminar o imaginário das populações com verdades que mais interessaram a eles mesmos e menos à vida das pessoas.
Ao longo dos tempos os homens inventaram a ciência. Esta fora inventada para melhorar a vida das populações. No entanto, muitas vezes a ciência mata, ao invés de produzir vida! Os homens da ciência também inventam armas para matar. Assim, milhões e milhões são investidos em armas que saíram da cabeça daqueles que se dizem fazer ciência.
Ao longo dos tempos as muralhas deixaram de ter a sua feição concreta de pedra ou cimento. As muralhas agora se constroem dentro das mentes e dos corações. Assim, vemos aqueles que endurecem o olhar sobre o que possa diferir dos seus pontos de vista. Estas são as muralhas invisíveis! Elas podem somente ser vistas através de ações, das palavras, dos gestos mais duros de um homem sobre um outro.
As muralhas invisíveis são feitas por modos de ser cristalizados. Elas são construídas através do endurecimento do coração. Assim, crianças, mães e tantos outros morrem nas travessias do Mar Mediterrâneo como forma de fugir das guerras que acontecem do outro lado da Europa. As muralhas invisíveis são feitas através da mentalidade das pessoas. Assim, a Grã-Bretanha decide sair da União Europeia, sendo um dos pontos a não acolhida dos imigrantes. O coração e as mentes vão produzindo muralhas invisíveis que mais produzem o preconceito frente aos que são estrangeiros, ao que é diferente, ao que é estranho.
As muralhas invisíveis são as mais novas tecnologias de afastamento entre pessoas. No entanto, ela pode ser feita aqui-e-agora, no momento em que você lê este artigo. Talvez, ao teu lado esta muralha pode estar sendo edificada. Os preconceitos, os julgamentos nascem da nossa cristalização das nossas crenças, do nosso modo de ver a vida, as pessoas, as outras culturas, as outras religiões. Vamos endurecendo o nosso modo de existir. De pouco a pouco abandonamos a empatia, esta sensibilidade social de onde podemos extrair gestos de solidariedade, gestos de partilha, gestos de cuidado com o outro.
Mas, as muralhas invisíveis podem se construir em minha direção, na tua direção. Quando começarmos a incomodar alguém, talvez, dentro de nossa própria família, estas muralhas estarão lá nos esperando… Elas são construídas quando menos esperamos. Como evitar estas muralhas? Primeiro, evitando que elas sejam construídas em nós mesmos. Ao invés de julgarmos, poderemos nós, nos aproximar daqueles que são o alvo de nossos julgamentos. Ao invés de proferirmos nossos preconceitos em relação a um determinado assunto, poderemos nos perguntar qual é o tipo de desejo que deseja ver esta pessoa ou situação desta forma, ou seja, através de uma verdade que faz parte de nossa existência.
Muralhas invisíveis: antídoto = gestos de proximidade entre pessoas; gestos de empatia, buscando sentir sensivelmente o que o outro passa, mesmo que seja um desconhecido; gestos de solidariedade de onde o que se ganha é saber que contribuímos com a vida de um outro que poderá durar mais com nosso gesto; gestos e menos palavras! O mundo já está obeso de palavras! Precisamos de mais gestos de amor entre culturas, gestos de compreensão entre religiosos, gestos de tolerância e respeito frente aos que diferem de pensamentos e crenças. Gestos… estes já indicam outros caminhos… sem muralhas invisíveis…
Boa semana,
Paulo-de-Tarso