Querer sempre mais: estado de espírito da contemporaneidade! Desejar sempre um algo ou alguém que não se está presente: viver afirmando que tudo lhe falta! Querer contemplar seus desejos a todo o custo, mesmo que isso custe o prejuízo dos valores éticos: passará por cima de tudo e todos, feito um trator! Querer se dar ‘bem’, mesmo utilizando-se das ‘máscaras’ para se aproximar daquele que possa lhe oferecer aquilo que deseja: se vestirá de ‘camaleão’, mudando de cor, para ter posse formal do oportunismo – vestindo-se de um amigo fraternal. Querer sempre mais: na medida em que a satisfação será um estado jamais alcançado.

Guardando as devidas proporções acerca do que foi enunciado, vemos a crescente onda dos desejos animada pela força ‘viral’ da ambição. Ter, ter e ter. Desde as pessoas mais humildes até aquelas que já possuem tudo: o desejo de possuir ainda mais se torna algo comum na cotidianidade. Este desejo – que cega e desorienta aquele que está já contaminado – pode ser verificado naqueles que já nem se preocupam com as conseqüências das suas ambições. Teremos, por um lado, pessoas que colocarão as mãos onde não alcançam: são aqueles que querem adquirir coisas sem poder. Por outro lado, teremos aqueles movidos pela inveja – mesmo que se digam e se ‘fantasiem’ nos adereços de ‘melhores amigos’.

Estes se inspiraram na seguinte ideia: se aproxime do inimigo – se vestindo de amigo – conhecendo as suas fraquezas, para depois, finalmente, dar o bote fatal.

Vemos esta tipologia ou modos existenciais que são animados pela natureza da ambição na vida real – talvez bem próximo de nós – ou nas telenovelas. Estas vão hipnotizando a massa social com ideias e afetos de todas as naturezas: da raiva à inveja; da competição desenfreada à ambição; da desonestidade à impunidade; dos carinhos às cenas sensuais mais quentes – em horários nos quais as crianças têm acesso etc.

O duro é que as crianças ainda pequenas ficam expostas a tudo isto! Tudo vai ficando cada vez mais normal. Claro que a realidade em torno de todos nós indica uma situação difícil – mas não impossível – de ser resolvida: violência, miséria, alienação etc. As crianças também participam desta realidade de uma forma ou outra.

No entanto, as informações que chegam às crianças chegam de uma forma grosseira e banalizada: vão se alimentando dos ‘dejetos’ visuais e sonoros os quais farão – em maior ou menor grau – parte das suas realidades sem orientação ou referência. Todos, inclusive nós, vamos nos acostumando com aquilo que se vê e se escuta: toda uma ‘dessensibilização alienista’- por conta da repetição das informações – vai sendo produzida e reproduzida para que nos ‘acostumemos’ com a desgraça que está aí. “Ainda bem que foi com o outro e não comigo…” Esta corrente de ideias pode não aparecer em palavras na mente de cada um, mas é sentida no corpo quando algo de ruim acontece a um outro alguém!

A empatia, uma das emoções sociais fundamentais para a constituição e sobrevivência de uma dada realidade social, cada vez menos é exercitada! Aprender a se colocar na pele de uma outra pessoa – perceber se aquilo que será dito poderá ser agressivo à outra pessoa – torna-se um aprendizado fundamental para o atual estado de coisas. Aprender a se colocar na pele daquele que está precisando de ajuda – torna-se um antídoto para exercitarmos a solidariedade e, por conseguinte, desejarmos ao outro aquilo que desejamos para nós próprios.

Ambição: filha da inveja – na medida em que aquele que é ambicioso deseja aquilo que é efeito de alegria para outras pessoas. “Também quero aquilo…” Inveja e ambição são afetos tão próximos quanto o nariz é dos olhos. No entanto, quem é ambicioso e invejoso não sente o cheiro da voracidade que vai ‘carcomendo’ a sua vida: pois nunca se satisfaz com nada ou com tudo! Talvez aí resida a origem da infelicidade de muitos: desejam tanto tantas coisas… desaprenderam a valorizar aquilo que está tão perto de si… aquilo que já foi conquistado e que não é mais valorizado.

Abraço,

Paulo-de-Tarso