O consultório

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CIGARRAS MACAÉ – Neste fim de semana apresentamos texto de nosso Amigo Genial, Luiz Cláudio Bittencourt, sempre nos deleitando com sés “causos”…

O CONSULTÓRIO

E lá fui eu ao Doutor. Cheguei cedo e, para minha surpresa, já havia 4 pessoas na sala de espera. Olhei o pessoal e dei um bom dia – não houve eco! Todos com os olhos colados nos seus celulares, hipnotizados por aquelas letrinhas, imagens e sons. Pensei comigo: – “Não vai haver conversa!” Eu não havia levado o meu e não demorei a perceber que estava na berlinda.

Cada celular daquele tinha um som diferente e, sem querer, comecei a imitar com a boca o som de um deles. Pouquíssimo tempo depois, dois olhos miraram-me como se fossem canos de uma arma. Parei com a minha diversão! Não havia revistas e, mesmo assim, não senti saudades do meu aparelho. Gosto da internet, mas de uma maneira diferente.

Lembrei-me com saudade dos antigos tempos de conversas em salas de esperas. Até namoros começavam ali! Falava-se de tudo, trocava-se um monte de informações e o tempo passava que a gente nem via. Eu sou bom em animar salas de espera e até velórios! Mas, nesse dia, eu estava na berlinda, não havia conversas e eu nem podia me divertir com os sons.

Pensei até em assobiar uma canção, mas logo me lembrei dos “olhos calibre 12”!
Veio então a lembrança de minha mãe que, desde quando eu era novinho, me colocava para ir a bancos e a outros lugares, sempre com a presença de filas. Dizia ela: – “Existe uma maneira da fila ficar mais agradável!” Nesse tempo, nos bancos, era uma fila para cada caixa e, quando alguém apresentava um monte de cobrança para que fosse calculado os juros e depois efetuar os devidos pagamentos – a coisa brecava feio!

Bendita fila única que veio ao nosso socorro, pois, me tornei um caixa de banco por 25 anos. Mas, voltando à minha mãe, a jogada era a seguinte: – dar um tempo até que entrasse na fila alguém com jeito de interessante, aí era só ocupar o lugar seguinte e puxar conversa. Quantas relações de amizade também começaram em filas de banco. Gosto de conversas em filas, normalmente são bem animadas!

Da próxima vez, em lugar de celular vou levar um livro que, mesmo existindo digital, ainda prefiro o bom e velho papel! Uma homenagem à Dona Naidia, a minha querida bibliotecária! Na minha idade, com os inconvenientes desse tempo moderno, das ligações que nos incomodam tanto e com enorme desrespeito ao usuário, chego muitas vezes a preferir não ser encontrado. Sou mestre em esquecer telefone em casa! Como nos maltratam! No meu caso é a Oi com as suas ofertas, que falta de educação e consideração a quem a faz sobreviver!

E cochilei, acrescentando aos outros sons os de pelo menos umas duas roncadas. Foi a melhor opção!

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Aurora Ribeiro Pacheco