No jornalismo, “nariz de cera” é o jargão que utilizamos para nos referirmos ao “lugar comum”. E a utilização do recurso no título deste texto é a melhor forma para definir o atual momento do Macaé Esporte. Estive na última quarta-feira (9) no Estádio Moacyrzão para assistir ao jogo decisivo contra o Americano, pela Seletiva do Campeonato Carioca, e saí de lá com um mix de sentimentos (triste, insatisfeito, desesperançoso…).
Fiquei 10 anos da minha vida dentro do clube. Conheço cada pessoa que lá está. Quem me conhece, sabe que me dediquei mais ao Macaé que a minha própria família, e é muito triste ver o que foi construído estar indo pelo ralo. Conquistamos acessos (três no total), um título inédito da Série C do Brasileiro em 2014, mas também enfrentamos momentos de dificuldades, como o retorno para a Série C no ano seguinte.
Entrei no Macaé em maio de 2007. A cidade vivia uma efervescência no esporte. A nível nacional, tínhamos equipes de vôlei feminino (Cimed/Macaé) e futsal masculino (Macaé Sports). A Liga Macaense disputava o Estadual de basquete. Em julho, o município recebera o revezamento da tocha do Pan-Americano. Ou seja, Macaé respirava esporte.
O que estava mais “atrasado” era o futebol. O Macaé Esporte iria para a sua 10ª participação consecutiva na Série B do Carioca. Cansado de “bater na trave” (foram três tentativas de acesso), o clube montou um super time (liderado pelo técnico Tita) e conseguimos colocar o Macaé na elite do futebol do Rio de Janeiro.
Nesta época, o clube sempre apostou em PROFISSIONAIS para ajudar na gestão. Para quem não acompanha de perto, o presidente Mirinho gosta de montar bons times. E geralmente ouvia as pessoas “certas”.
Entretanto, de alguns anos para cá (especificamente após o acesso à Série B do Brasileiro), resolveu mudar. Afastou os PROFISSIONAIS que se doavam pelo clube e passou a se aconselhar com outros que não tinham o menor preparo para ocupar suas funções.
O que aconteceu? Hoje, o clube não tem mais calendário em nível nacional. No Carioca, disputará o Grupo da Morte e, depois de 11 anos na elite, pode retornar à Série B do Rio. Torço para que não, mas pelo que vi na quarta-feira passada (confesso que não assisti quase nenhum jogo das outras equipes) fiquei preocupado.
Respeito muito os profissionais que lá estão (comissão técnica e jogadores). Ninguém os obrigou a estarem lá. Mas somente eles podem ajudar o clube neste momento delicado. E, de coração, torço muito para que consigam ao menos manter o Macaé na Seletiva. Porque se cair para a Série B, será muito complicado conseguir se reerguer, até porque o Poder Público já “fechou a torneira” faz tempo para o esporte de alto rendimento na cidade.
De certo mesmo é que o atual momento do clube foi construído ao longo dos últimos três anos, com decisões precipitadas e equivocadas. A ponto de ser punido com a perda de 26 pontos, como no Carioca de 2018.
Enfim, nós, como macaenses, só no resta torcer por dias melhores. Seja com o Macaé. Ou com o Serra Macaense. Ou com qualquer outra equipe que venha a se aventurar com o futebol profissional.
* Tiago Ferreira – Jornalista e ex-assessor de imprensa do clube