*Marcos Espínola
É surpreendente ainda ter que se discutir o racismo que, inquestionavelmente, está enraizado no planeta. Por aqui não é diferente e dizer o contrário é tentar, inutilmente, camuflar a realidade. O racismo sempre esteve e está presente em nossa cultura.
Infelizmente, o fato é que as sociedades de um modo geral ainda não amadureceram o suficiente para respeitar o semelhante com a pele de cor diferente. George Floyd reacendeu a discussão no âmbito mundial, porém não precisaríamos ir tão longe. O preconceito existe e resiste nessa sociedade contraditória, na qual há tecnologia de ponta, modernidade e riqueza de informação, mas carência de consciência e respeito.
Relatado pelo mestre Nelson Rodrigues, na obra Anjo Negro, o preconceito racial marca a história desse país. E como nos personagens da obra citada, o ódio em boa parte provocado pelo preconceito racial e humilhações demasiadas que sofriam levou a mortes brutais.
E isso vem de longa data. No período colonial, o racismo brasileiro já era explícito, quando o negro foi tratado como mão-de-obra escrava, visando atender aos anseios e caprichos de senhores de engenho.
Se relembrar a história já nos deixa perplexos, nos depararmos com as estatísticas atuais é ainda mais repugnante. Ironicamente, os negros representam 55% da população brasileira, mas continuam sendo minoria, seja em oportunidades de emprego, acesso à educação e vida digna em geral. Maioria eles só atingem no sistema penitenciário, quando são mais de 60% dos mais de 750 mil presos, segundo Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen).
A taxa de analfabetismo entre os negros de 15 anos ou mais, algo em torno de 10%, é superior ao dobro da taxa de analfabetismo entre os brancos da mesma faixa de idade (3,9%), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Eles ganham menos do que os brancos e a taxa de desocupação entre os negros em 2018 foi de 14,1%, contra 9,5% entre os brancos. Até em relação ao Covid-19, um estudo da PUC-RJ com base em quase 30 mil casos, mostrou que na combinação de raças e escolaridade, as realidades desiguais ficaram ainda mais evidentes, com uma maior porcentagem de óbitos de pretos e pardos, em todos os níveis de escolaridade.
E tem mais, quase 8 em cada 10 das pessoas assassinadas no Brasil são negras. No parlamento são sub-representados assim como no alto escalão das empresas. E por aí vai. Faltaria espaço para descrevemos tanta desigualdade. O racismo está presente e precisamos, definitivamente, escrevermos novos capítulos dessa história. Páginas que possam no futuro falar sobre igualdade e respeito que lhes são de direito.
*Advogado e Especialista em Segurança Pública