Esta semana, uma pergunta percolou todo o país: por que o Jean Paul Prates foi demitido da função de presidente da Petrobras? Até então, ao que se percebia, a maioria dos envolvidos com a indústria petrolífera achava que ele vinha conduzindo a empresa de uma forma equilibrada e rentável. Por que, então?
Quem se der ao trabalho de olhar as análises sobre o assunto, publicadas em diversos órgãos, vai se deparar com várias opiniões, a depender do autor e de suas fontes. Um diz que ele saiu porque não deu a velocidade exigida ao processo de recompra da refinaria da Bahia, além da morosidade na construção da refinaria de Abreu e Lima. Outro diz que a verdadeira razão foi porque não aumentou a oferta do gás natural e continuou a injetar o produto nos poços para aumentar a produção do petróleo. Alguns explicam a saída dizendo que Prates não privilegiou os estaleiros nacionais para construção de plataformas marítimas. Alguém disse que a verdadeira razão foi que ele não deu a devida atenção às fontes de energias alternativas, em contraponto a quem garantiu que a verdadeira razão foi a sua pouca velocidade na retomada da produção de fertilizantes.
Estas e outras razões foram aventadas e podem até ser verdadeiras, sozinhas ou em conjunto. Todavia, é bom lembrar que todos estes assuntos estão sendo analisados nas diversas diretorias executivas e no Conselho de Administração da empresa. O que me parece é que pessoas influentes prometem o céu na terra, sem saber ou querer considerar, que numa atividade de alto risco e capital intensivo as coisas não podem ser feitas de afogadilho. Não basta querer. Os projetos demandam estudos técnicos, logística, disponibilidade de fabricantes de equipamentos e montadoras, capacitação técnica de fornecedores, licenças ambientais etc., e, o mais importante: Viabilidade Econômica.
Também não podemos esquecer que existe o tempo de execução, onde não se pode queimar etapas. Não se coloca o telhado de uma casa sem antes construir as paredes e essas dependem dos alicerces. E não adianta antecipar o recebimento das telhas, se o fornecedor do madeirame atrasou a entrega. Simples assim.
Comprovadamente, o desenvolvimento de um campo de petróleo, ou construção de uma refinaria, quando realizados dentro das melhores técnicas, são mais demorados do que o tempo entre uma eleição e outra. Há que ter continuidade nas diretrizes e objetivos.
Imaginemos, então, que para atender determinações ou desejos de seus superiores hierárquicos, a direção da Petrobras resolva atropelar as suas regras de governança e aprove um projeto economicamente deficitário. Em pouco tempo, estaria o TCU, o Ministério Público e outros órgãos de controle, auditando e condenando os CPFs do presidente, conselheiros, diretores e técnicos envolvidos. Nenhum dos superiores que ordenaram apareceriam. Vejam aí a importância das rígidas regras de governança que, se de um lado reduz a velocidade dos processos, pelo outro garante as lisuras dos mesmos e dá segurança aos gestores.
Então, por tudo isso, não acho que exista uma única causa que tenha gerado a recente troca de presidente da Petrobras. Vaidades, holofotes, palavras ou gestos impensados, pressão de grupos econômicos insatisfeitos, pressão política. Sempre foi assim.
Enquanto a Petrobras for uma empresa estatal, com a capacidade alavancadora que tem, dificilmente algum governante deixará de usá-la como instrumento de desenvolvimento nacional. E isso não está totalmente errado e pode ser feito, desde que com parcimônia e equilíbrio, respeitando as boas técnicas de engenharia, de administração e regras financeiras, pois foi assim que a Petrobras nasceu, cresceu e perpetuou-se como uma das maiores e mais respeitadas empresas de petróleo do mundo.
Por Alfeu Valença
Alfeu Valença é ex-presidente da Petrobrás e fundador da CONPET – Consultoria e Engenharia de Petróleo.