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Com a Petrobrás pisando no freio dos investimentos e vendendo mais ativos, empresas petrolíferas estrangeiras estão ganhando espaço no Brasil. Juntas, Shell, Repsol Sinopec, Petrogal e TotalEnergies já respondem por 20% da produção nacional de petróleo e gás. Essas são as quatro maiores produtoras, atrás da estatal. Em conjunto, a iniciativa privada responde, hoje, por 27% do total, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

O novo retrato da indústria revela ainda a transferência dos investimentos para o pré-sal e a queda do número de descobertas de reservatórios. Mudou também a distribuição dos royalties entre municípios.

Representante das grandes petrolíferas, o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) acredita que a participação das estrangeiras deve crescer ainda mais à medida que o pré-sal avançar. A maior parte dos projetos na região é desenvolvida em parcerias. Grande parte é operada pela Petrobrás em sociedade com as multinacionais.

Os investimentos da Petrobrás estão caindo, na verdade, desde 2014, quando a empresa passou a ser alvo de denúncias de corrupção na Operação Lava Jato, a cotação do petróleo despencou e seu endividamento ultrapassou a marca dos US$ 100 bilhões. Em resposta, seus gestores optaram por reduzir os investimentos, que passaram de US$ 236,7 bilhões (para o período de 2014 a 2018) para os atuais US$ 55 bilhões (de 2021 a 2025) – uma retração de US$ 181,7 bilhões.

Para isso, a estatal decidiu abandonar o plano de ser uma empresa integrada em cadeia e vendeu campos terrestres e em águas rasas. A intenção era concentrar os esforços no pré-sal. Da mesma forma, passou a colocar menos dinheiro na exploração de novas reservas, que responderiam por descobertas futuras. Poucas aquisições aconteceram nos últimos anos, exceto em áreas gigantes do pré-sal da Bacia de Santos, como em Búzios, tido como seu melhor ativo.

O reflexo direto dessas decisões aparece nas estatísticas da ANP. A participação da Petrobrás na produção nacional passou de 84% em abril de 2016 para 73% em igual mês deste ano, uma queda de 11 pontos porcentuais em cinco anos. Em contrapartida, cresceu a presença estrangeira no setor.

A mais evidente foi a da Shell, que, há cinco anos, respondia por 7% da produção interna de óleo e gás, e atualmente está com 12%. Parte desse avanço se deve à compra da BG, no início de 2016. Em seguida, aparecem a Petrogal (cuja participação passou de 1,4% para 3,4%) e TotalEnergies, que saiu do zero para quase 2%. A Repsol Sinopec ocupa a quarta colocação, mas o volume extraído por ela caiu 0,2% no período.

Há ainda uma série de companhias estrangeiras de grande porte – como Chevron, Equinor e Exxon, que apostam em campos em águas profundas, inclusive no pós-sal – e brasileiras, como Enauta, PetroRio e Dommo, que vêm crescendo, principalmente, com a compra de áreas da Petrobrás.

Para a estatal, avanço de estrangeiras é ‘natural’

A Petrobrás afirmou ser “natural” o crescimento de concorrentes estrangeiras no mercado de petróleo no Brasil, “assim como a entrada de novas empresas em ativos vendidos” por ela. A estatal, em contrapartida, trabalha para manter sua liderança na produção de petróleo e gás em águas profundas e ultraprofundas, incluindo o pré-sal, como informou por meio de sua assessoria de imprensa.

A estatal confirmou a estratégia de atuar em sociedade e diz ser essa uma solução para reduzir a exposição ao risco e agregar o conhecimento e capital dos parceiros. Segundo a companhia, esse modelo de negócio ajuda a empresa a “estar presente em um maior número de oportunidades e agregar competência”.

A Petrobrás argumenta que sua produção de petróleo cresceu nos últimos anos, com exceção de 2018, e que deve manter a liderança no segmento de refino, mesmo após se desfazer de metade da sua capacidade de produção de derivados. “A Petrobrás continuará sendo a maior companhia integrada no Brasil, utilizando seu parque para maximizar o retorno e otimizar suas operações”, afirmou.

A empresa diz ainda que o campo de Búzios, no qual deve investir US$ 4,2 bilhões por ano até 2025, tem reservas significativas, com baixo custo de extração e, por isso, é resistente a um cenário de baixos preços de petróleo. O campo seria, portanto, a melhor resposta da empresa à retração anual das suas reservas. A empresa ainda não informou ao mercado, no entanto, o volume de petróleo que o campo deve acrescentar ao seu reservatório.