A pesquisadora e professora Drª Mirella esclarece pontos importantes do estudo sobre a terceira dose da vacina contra Covid-19 - Foto: Divulgação

Macaé avança em sua campanha de vacinação e apresenta um resultado animador de contenção do avanço do novo coronavírus. O covidimetro de domingo (22) aponta para 20% de ocupação de leito.


Entretanto, neste momento, surge no mundo científico uma nova discussão: a aplicação ou não da terceira dose da vacina contra Covid-19. O Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade de Macaé (NUPEM/UFRJ) levanta o assunto, colocando em evidência principalmente a questão das pessoas que respondem de forma menos intensa e prolongada à vacina, sendo, portanto, considerado um grupo prioritário para a terceira dose da vacina.


A pesquisadora e Professora do Nupem, Dra. Mirella Pupo Santos, acaba de concluir um estudo de revisão bibliográfica, onde destaca a necessidade de uma terceira dose para casos de pessoas com a resposta imunológica deficitária e agentes de saúde que estão na linha de frente no combate a COVID19.

“A resposta definitiva sobre essa necessidade ainda está em avaliação por meio de estudos no mundo todo. Esses estudos usam dados imunológicos e epidemiológicos que devem ser levados em consideração para afirmar a necessidade da terceira dose e quais grupos devem receber. Muitos estudos já publicados foram feitos com públicos específicos como por exemplo, os transplantados, ou seja, as pessoas que receberam algum órgão, pois são grupos de pessoas imunodeprimidas. Esses estudos mostram a segurança e eficiência da terceira dose da vacina. Algumas agências de saúde em alguns países já estão orientando a terceira dose para esses casos, como a French National Authority for Health, autoridade de saúde da França. Estudos ainda preliminares estão sendo feitos com a Coronavac em pessoas idosas e em pessoas sem problemas de saúde de 18 a 59 anos para observar a eficácia e a segurança da terceira dose. Principalmente para idosos, pessoas com comorbidade, imunocomprometidos e possivelmente agentes de saúde, a terceira dose deve ser implementada também aqui no Brasil”, declara a Bióloga em seu estudo.


Neste sentido, segundo a Drª Mirella, a terceira dose, portanto, deve ser uma realidade para casos específicos e não para a população em geral, a princípio. “Dessa forma, a partir dos estudos científicos em andamento, o Plano Nacional de Imunização deve ser remodelado para atender às novas demandas.

Plano Nacional de Vacinação

A Drª Mirella faz uma excelente análise sobre a campanha de vacina no Brasil e no mundo, “A demora para início da vacinação, a negação à ciência, e a desinformação promoveram no Brasil e em outros países o agravamento da pandemia. Estamos com apenas 55% da população brasileira com a primeira dose e 25% com a segunda dose e ainda há a presença de novas variantes em nosso país. Precisamos que a vacinação seja ampliada ao máximo para que tenhamos a maior parte da população vacinada com duas doses. Portanto, é preciso avaliar o avanço da doença, as variantes presentes no nosso país, estudar as respostas das vacinas às novas variantes e avaliar o avanço da vacinação em massa no país para concomitantemente ampliar e remodelar o Plano Nacional de Imunização. Os estudos científicos são de extrema importância para nortear a gestão futura do novo calendário vacinal durante e após a pandemia.”

Vacinação contra covid-19

A pesquisadora e professora do Nupem esclarece ainda que “a vacina é a forma de ativar nosso sistema imunológico para atuar contra microrganismos, como vírus ou bactérias, induzindo respostas que envolvem muitos componentes, como os anticorpos IgM e IgG. Esses e outros componentes do sistema imunológico, como as células T e B, atuam para controlar a multiplicação dos microrganismos dentro de nossas células. A vacina induz respostas imunológicas semelhantes ao que o próprio microorganismo induziria, entretanto, sem riscos de ter uma infeção. Portanto, as vacinas são seguras e devem ser usadas para deixar nosso organismo em alerta e pronto para combater os microorganismos invasores.


Durante esse ano e o ano passado várias vacinas foram desenvolvidas para a COVID-19, num total de 15 vacinas. Entre elas, há vacinas com tecnologias já bem conhecidas e usadas, como a que usa o vírus inativo, como a Coronovac. Foram desenvolvidas também vacinas usando vetores virais, ou seja, são vacinas que usam vírus modificados, que não são capazes de gerar danos para nosso organismo, para levar para as nossas células uma pequena parte do coronavirus. Essa parte do coronavírus introduzidas em nossas células, por meio dos vetores virais, são moléculas conhecidas como RNA mensageiro (RNAm) que dentro de nossas células são usadas para a produção de uma proteína do coronavírus chamada de Spike. Dessa forma, nossas células recebem parte do coronavírus produzem essas proteínas e já acionam as respostas de defesa imunológica de nosso corpo. As vacinas da Astrazeneca, Jonhson e da Sputnik usam essa tecnologia.

O último tipo de vacina desenvolvido para COVID-19, são as vacinas de tecnologia de ponta conhecidas como as vacinas de RNAm, como a Pfizer e a Moderna, que usam como vetores de entrega do RNAm, moléculas lipídicas ao invés de usar vetor viral como as vacinas anteriormente citadas. Dessa forma, as vacinas da Pfizer e a Moderna tem o mesmo princípio das vacinas de vetor viral, com diferenças no vetor de entrega do RNAm. Importante ressaltar que todas as vacinas testadas mostram-se eficazes para redução dos casos graves de COVID-19 e que nenhuma vacina é 100% eficaz, porque assim como um excelente goleiro que nunca toma um gol em algum momento ele pode sofrer um gol, e mesmo assim não deixa de ser um bom goleiro. Portanto, é importante que as pessoas tomem a vacina que estiver disponível no posto de saúde.


Os vírus sofrem mudanças com o tempo, que chamamos de mutações. As mutações são geradas aleatoriamente e consistem na mudança genética do vírus resultando em um vírus um pouco diferente que pode ter novas características, como por exemplo, ser capaz de infectar mais pessoas ao mesmo tempo, como o caso da variante delta. Quanto maior a quantidade de vírus circulante, ou seja, infectando novas pessoas, mais mutações vão ocorrer. As vacinas estão sendo continuamente testadas, inclusive frente às novas variantes para observar sua eficiência e a princípio os estudos atuais mostram que em sua maioria a eficiência das vacinas foi menor frente às novas variantes quando comparado ao coronavírus original. Portanto, conter a transmissão é algo extremamente importante para reduzir os casos de coronavírus e também para reduzir o surgimento de novas variantes. A vacinação em massa e o distanciamento físico são as únicas formas de fazer isso de forma efetiva.


As vacinas para COVID-19 em sua maioria, com excessão da vacina da Jonhson, utiliza como esquema de vacinação duas doses que possuem intervalos diferentes para cada tipo de vacina, variando entre 15 a 3 meses de intervalo. O fracionamento, ou seja, a divisão em mais de uma dose já foi usado em outros casos de surtos de doenças virais, principalmente quando os suprimentos da vacina são limitados. A dosagem fracionada é usada para reduzir substancialmente taxas de infecção em um maior número de pessoas possível como no caso da COVID-19, principalmente para países de baixa e média renda. A segunda dose portanto, é o complemento para termos uma dose completa. Além da estratégia de estender a vacinação, o fracionamento também atua desafiando novamente nosso sistema imunológico e em um tempo específico após ao primeiro estímulo promovido pela primeira dose da vacina. Dessa forma, a segunda dose é importantíssima para garantir melhor proteção ao vírus. A necessidade e implementação da segunda dose foi demonstrada em estudos científicos que demonstraram que a eficiência é consideravelmente maior após a segunda aplicação.”