*Marcos Espínola
A pandemia está mudando o mundo e exigiu das pessoas e sociedades mudanças e readaptações do modo de agir que muito provavelmente não voltarão mais a ser como antes. Todos tiveram que exercitar nova visão sobre a maioria das coisas, como agir, como ver o seu semelhante, modelos de gestão, entre outros. E nesse exercício é possível identificar acertos e erros ou, simplesmente, novos procedimentos que podem trazer benefícios para a coletividade.
No Rio de Janeiro, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), no primeiro mês da determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) que suspendeu as operações policiais em comunidades fluminenses durante a pandemia – permitidas apenas em casos excepcionais -, o Rio teve uma queda de 73% nas mortes cometidas por agentes de estado, que atingiram o menor patamar desde dezembro de 2015.
Especialistas divergem, pois uns apontam maior domínio e expansão do tráfico, por outro lado fica claro que a política de confronto, adotada há décadas, já deu o que tinha que dá. Como ressaltamos há anos, cada vez mais fica evidente que é preciso mudar o modus operandi, apostando na inteligência e estratégia.
Para combater a violência é preciso planejamento a médio e longo prazo, considerando o envolvimento de outras áreas sociais, como educação, saneamento, moradia etc. que precisam caminhar junto com a força de segurança.
Já se falou exaustivamente que o poderio que o narcotráfico alcançou não será combatido só com ações policiais. A criminalidade está entranhada nos variados setores da sociedade, com tentáculos por toda parte que precisam ser identificados e desfeitos de forma gradual e inteligente.
As mais de mil favelas do Rio, fora as inúmeras comunidades nas demais regiões do Estado, estão armadas até os dentes, respaldadas por braços do crime que facilitam a entrada de armas e drogas. Assim, barbarizam o cidadão e a sociedade como um todo. Não será só com tiro, porrada e bomba que resolveremos o problema. Na realidade, o enfrentamento ao crime organizado é um negócio bem mais complexo.
Em meio a total imprevisibilidade do que ainda vem pela frente até que a situação da saúde se normalize, quem sabe com a chegada da vacina contra o covid-19, precisamos observar e tirar lições. O Rio não pode continuar como está. Chegamos ao fundo do poço e se há uma vantagem nisso é a certeza de que só há um caminho a percorrer: plagiando o bordão do super herói “para o alto e avante”.
*Advogado e Especialista em Segurança Pública