O que é o desejo? O que é o afeto? O que é a paixão? Cada um conhece os seus? Cada um consegue governar os seus? Você conhece os seus? Destacarei, inicialmente, cada um destes elementos – companheiros da nossa viagem de vida – os quais nos acompanham desde tempos longínquos.
Colocarei em relevo o conceito de desejo: todas as situações, acontecimentos, a que cada um tende, se interessa e, por seu turno, tiver consciência, poderá ser compreendido como desejo. Claro que existem desejos inconscientes – falo ( e neste falar posso falar de forma impulsiva, ou ter atos falhos); me movimento ( quando ando, quando minha mão toca o teclado do computador, não tenho consciência total dos meus movimentos – é um ato consciente com partes inconscientes); produzo imagens na mente ( não tenho um controle total sobre os sonhos, sobre as imagens que nascem na minha mente – em parte, a produção destas, faz parte de uma usina do inconsciente).
Existe uma aliança muito interessante nos processos dos desejos conscientes e inconscientes: posso saber que quero e me inclino para uma coisa ( pessoa, objeto, acontecimento), mas posso também não ter consciência sobre os motivos reais que me impulsionam nesta direção. Posso me envolver com alguém: encontro do qual jorram sentimentos de alegria. Posso ficar agarrado à ideia desta pessoa, nascendo em mim os sentimentos alegres sem, no entanto, compreender quais os elementos constituintes desta alegria: aqui reside o universo das paixões.
Ao contrário do que é disseminado nas crenças do senso comum, o sentido conferido à “paixão”, não fica apenas restrito aos acontecimentos ligados aos envolvimentos sentimentais. Poderemos conferir um outro sentido ao termo paixão, mudando, em certo grau, a sua compreensão. Por paixão compreenderemos os pensamentos, ideias, sentimentos, sensações dos quais não temos um entendimento ou clareza. Por esta perspectiva, estaremos sujeitos às paixões, na medida de que nos deparamos o tempo todo com as situações do mundo que nos afeta. Nesta instância, estaremos sendo afetados por inúmeros encontros com pessoas, notícias, situações e acontecimentos, dos quais proliferarão em nós pensamentos confusos e sentimentos conturbados.
As paixões ( ideias, pensamentos e sentimentos confusos) nascem em cada um, a cada instante: quando agimos no impulso; quando falamos o que não deveríamos falar; quando sentimos tristezas e não compreendemos as suas causas; quando não conseguimos nos desembaraçar de uma situação sentimental, profissional, familiar – enfim, quando não compreendemos alguma situação em que estejamos ou não envolvidos.
O território das paixões, vem trazer à luz o solo por onde os afetos escorrerão. Os afetos poderão, nesta esfera, serem compreendidos, por um lado, como os sentimentos de alegria e tristeza e, por outro, como as sensações agradáveis ou desagradáveis que fluem em nós. Num dado instante, quando nos lembramos de algo que vivemos, nos deparamos com sensações de aperto no peito; a face contraída; a respiração contida. A sensação é de que o corpo está reduzindo. Aqui, as lembranças geraram afetos de vitalidade, isto é, nasceram do encontro com as imagens passadas – articuladas com as imagens atuais: sensações corporais percebidas no seu todo como um “encolhimento”.
O sentimento derivado desta sensação é o de tristeza: os elementos sentimentais desta tristeza podem estar ligados aos filhos desta – sentimentos de ressentimentos; raiva; irritação; decepção e outros.
Esta genética afetiva acena sobre a compreensão da qual podemos nos servir: organizar; buscar as relações comuns e dissonantes – distinções e alianças: entrar no mundo das ações. Neste universo, quando vamos aprendendo a cada instante a formar relações entre o que sinto, penso e desejo, começamos a desejar a vida, saindo das paixões e aprendendo a governar os nossos afetos. Parece fácil o que descrevi acima, mas tudo o que for precioso será conquistado e com esforço: assim valorizamos as coisas realmente importantes e úteis para cada um de nós.
Abraço forte,
Paulo-de-Tarso