Diante da falta de assistência, projeto, junto ao Lions Clube e empresário, arrumou van para levar algumas pacientes ao Rio

Dificuldades para conseguir transporte e a realização de exames preventivos estão na lista de reclamações

Uma história que, mesmo com o passar dos anos, sempre se repete. Pacientes oncológicos em Macaé voltaram a procurar o jornal O DEBATE essa semana para relatar o caos na saúde do município. O descaso do poder público tem prejudicado o tratamento de várias pessoas que, além de enfrentar a doença, precisam vencer a burocracia.

Quem tem acompanhado de perto o drama de centenas de pacientes no município é Marilene Ibraim, criadora do projeto Mulheres em Luta. “Não é de hoje que venho acompanhando o drama de muitas mulheres, algumas que, infelizmente, já se foram, e o que tenho notado é que a saúde do nosso município está crítica, piorou muito”, conta.
Com um Centro Oncológico limitado, a maioria dos pacientes em Macaé precisa recorrer ao tratamento em outros municípios, como Campos dos Goytacazes, que já está saturado, e o Rio de Janeiro.

Marilene retrata a falta de assistência do poder público até mesmo para a realização de exames. “Através de uma parceria com o nosso projeto, a gente está conseguindo levar algumas pacientes ao Rio para fazer os procedimentos a cada 15 dias. Para se ter ideia, em Macaé não se faz os exames de Core biópsia e Biópsia Mamária na rede pública. Eles encaminham para o Rio Imagem, que demora muito. Como o paciente vai combater a doença no início se não consegue fazer nem o preventivo? Cada exame desse no particular é uma média de R$ 700. A maioria não tem condição de pagar por isso. Macaé hoje tem uma carência na saúde. Enquanto isso os nossos médicos estão se candidatando para cargos políticos”, enfatiza.

Outro problema que vem ocorrendo, e não é de hoje, é a falta de transporte para os pacientes. “É uma dificuldade para conseguir o transporte. Recebo muitos relatos de pacientes que perderam seus atendimentos fora do município porque não conseguiram carro para ir. Quando a pessoa chega lá no setor e pede urgência, eles falam que não podem fazer nada. Se a prefeitura não dá atendimento, ela tem que dar o transporte”, alerta Marilene.

Ela relembra o caso de uma criança de quatro anos, que mora na Barra de Macaé. “Ela precisava fazer um exame no Inca, na capital. Numa sexta-feira o pai procurou o setor e avisou que precisaria estar lá na terça-feira. Ele não conseguiu com a prefeitura. Tentou com conhecidos, mas a única pessoa que podia ajudar não tinha gasolina e nem ele dinheiro para colocar. Por conta disso, a criança perdeu o atendimento pois não teve como ir ao Rio. Isso é um absurdo”, lamenta.

A paciente Penha Elisabeth sente na pele há anos as dificuldades para conseguir o transporte. “Estou cansada, aborrecida com essa situação em Macaé. A prefeitura já me deixou três vezes na mão, dizendo que não tem carro. Mês passado recebi alta e, mesmo sabendo disso, me deixaram até anoitecer esperando do lado de fora. O pior que não era só eu. Comigo tinham outros quatro pacientes que tinham feito quimioterapia e radioterapia naquele dia. O transporte de pacientes está uma safadeza. Na semana passada fui na Defensoria Pública e lá mandaram um ofício para o setor. Falaram que se a prefeitura não atendesse, eles iriam agir com mais rigor em cima”, conta.

Situação é ainda mais crítica na Serra

Se na cidade o problema é grave, nos distritos serranos de Macaé é ainda pior. Sem assistência, pacientes precisam pegar ônibus para se locomover. “Se não tiver condição de pegar o transporte público, não vem. Há muito tempo não tem carro para atender essas pessoas. Eles estão abandonados lá. Faço aqui o apelo aos representantes da Serra, no poder, que cobrem do Executivo para que resolva essa situação”, apela Marilene.

Cansada de bater de frente com a prefeitura, a líder comunitária tem buscado ajudar as mulheres assistidas no projeto. “Uma hora a gente cansa de brigar. É desgastante. Consegui uma parceria com o Lions Clube e o empresário Chico Machado, que arrumaram uma van para levar as pacientes no Rio a cada quinzena. Com isso podemos levar cerca de 30 pacientes por mês lá para serem atendidas. É um trabalho de formiguinha, mas se cada um fizer um pouco já ajuda. O município tem condições de fazer muito mais. Falta interesse. Enquanto isso vamos fazendo a nossa parte como cidadãos”, finaliza.

Dados do Inca preocupam

No mês passado, o INCA lançou a publicação com a estimativa para 2018 de casos de câncer no Brasil. Segundo ele, a incidência da doença cresceu 20% no mundo na última década, principalmente nos países de média e baixa renda.

O estudo mostra que, com exceção do câncer de pele não-melanoma, os tipos mais frequentes serão os de próstata (68.220 casos novos) em homens e mama (59.700 mil) nas mulheres. “Além dos citados, completam a lista dos dez tipos de câncer mais incidentes: cólon e reto (intestino – 36.360), pulmão (31.270), estômago (21.290), colo do útero (16.370), cavidade oral (14.700), sistema nervoso central (11.320), leucemias (10.800) e esôfago (10.970)”, diz o Inca.

No Brasil, estima-se que no biênio 2018-2019, a ocorrência de 600 mil casos novos de câncer, para cada ano. Aqui os maiores casos são de cânceres de próstata, pulmão, mama feminina e cólon e reto.

A distribuição da incidência por Região geográfica mostra que as Regiões Sul e Sudeste concentram 70% da ocorrência de casos novos; sendo que, no Sudeste, encontra-se quase a metade dessa incidência.

Em resposta, a secretaria de Saúde informou que ambas as questões – transporte de pacientes e oferta desses exames -, estão em processo de contratação, via licitação, para ampliação da oferta e atendimento à demanda crescente do município. A regularização dos exames de Corebiópsia e Biópsia Mamária está prevista para a próxima semana.