Manipuláveis de acordo com o interesse, os números, apesar de serem exatos, podem ser utilizados para explicar o “inexplicável”. E isso ocorre no momento em que se discute a qualidade do ensino público, seja na rede estadual, seja na esfera municipal.

Após a divulgação da nova pontuação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), uma saraivada de reclamações e argumentos, em defesa e contra, ao desempenho da gestão de um dos principais setores da administração da cidade, surge mediante o processo eleitoral. Mas, independente da batalha pelo voto, o ensino público precisa ser debatido sim, porém com outra visão.

Traçadas pelo Ministério da Educação (MEC) em 2008, as metas do Ideb representaram a esperança de evolução de área considerada como o berço para as transformações sociais, éticas e econômicas que o país ainda precisa encarar.

Com um planejamento de quase 20 anos, essa evolução se daria, não apenas por investimentos pesados no setor, como também na preparação dos profissionais, na modernização dos sistemas de ensino, no estímulo ao interesse dos estudantes e principalmente no poder de transformação de vida das pessoas.

Porém, assim como a Saúde e a Segurança Pública, a Educação não resiste aos mesmos impasses políticos e éticos que ainda pairam sobre a gestão pública, em qualquer esfera de poder. Enquanto isso, quem sofre as consequências é o povo, que vive sem espaço e sem memória.

Em 2017, a prefeitura destinou um quarto do orçamento de R$ 2 bilhões para custear as despesas da rede municipal de ensino. Cerca de 70% deste valor foi utilizado para sustentar a folha de pagamento dos servidores, assessores e contratados. Outros 15% financiaram o transporte escolar. E mais 15% foram utilizados em obras de infraestrutura e na modernização dos sistemas de ensino.

Ao que parece, não falta verba para garantir o crescimento do Ideb. O que falta é remodelar o sistema de gestão da rede, que ainda está sob o poder e a influência dos mesmos gestores, e pensamentos ideológicos, em quase duas décadas.

De base eleitoral, o ensino público precisa ser o motivador para a revolução que o país ainda precisa encarar. No entanto, enquanto as salas de aula forem encaradas como projetos pilotos de poder, a situação da educação não poderá ser medida por pontos, mas sim por privilégios. E para poucos!