Facções do tráfico ocupam há décadas comunidades de Macaé e o desafio em estacar a criminalidade tem se tornado grande - Reprodução/TV Record

Criminosos desafiam autoridades e se expandem para as comunidades macaenses com frequência para abastecimento de armamentos pesados e drogas

Migração desenfreada. Com esse fenômeno de entrada de pessoas em Macaé vindas de todos os lugares do país, associadas ao desenvolvimento econômico do município com a instalação da Petrobras em 1978, a cidade passou a sofrer reflexos do grande fluxo migratório populacional e do crime organizado. Facções criminosas da capital migraram para Macaé e hoje são responsáveis pela maioria dos homicídios na cidade.

O mito criado no passado de que Macaé é o novo Eldorado trouxe pessoas de todo o Brasil para a cidade, que, sem qualificação profissional para a indústria do petróleo, ficou à margem do desenvolvimento da cidade. Todo esse processo de expansão municipal, aumento da favelização e a crescente disparidade de renda, trouxe para o município um novo perfil populacional que passou a depender, a fazer uso, a criar uma nova demanda para os programas sociais não antes observados.

E essa falta de preparo aconteceu desde 1978, quando a Petrobras veio para a cidade, sem que Macaé fosse preparada para receber empreendimento de tamanho porte.

Décadas atrás a cidade teve um crescimento populacional que chegou a 600%, devido a vinda de empresas offshore e onshore, que acabou atraindo os olhares de outros estados e até mesmo de estrangeiros.

Décadas se passaram e faltaram ações e programas eficientes para combater os crimes desde lá de trás no ano 2000, cujo número de habitantes, na época, era de 160 mil. Atualmente, com quase 260 mil, dezenas de comunidades dominadas pelo tráfico de drogas e migração de traficantes da capital para o interior, a segurança pública se encontra desenfreada e o Estado não consegue estancar os crimes.

De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro, nos últimos 18 anos, ou seja, de janeiro de 2003 a janeiro de 2020, foram registrados 2.915 assassinatos, na área de abrangência do 32º Batalhão de Polícia Militar de Macaé. Ainda de acordo com o ISP, os anos que apresentaram maiores índices de execução foram 2016, com 227 mortes, e o ano de 2018, com 224 assassinatos.

O número de registro de roubos na região é alarmante. Dados apontam que do ano de 2003 até janeiro deste ano foram registrados mais de 35 mil delitos.

Baseado nos dados que mostram crescimento de criminalidade, não é de hoje que o Ministério Público realiza um mapeamento sobre facções criminosas e milícias que atuam na capital, no interior e no litoral fluminense. Os promotores tentam identificar os principais chefes do tráfico de drogas e de milícias na cidade com base em denúncias.

É notório que as comunidades de Macaé são abastecidas de drogas e armas por traficantes cariocas que são frequentes as apreensões de materiais entorpecentes nos bairros de Macaé com as siglas dos grupos criminosos que atuam na capital. Para as autoridades, as quadrilhas mais poderosas se encontram em Macaé e em Angra dos Reis, que são rotas para a entrada de drogas no Estado, além de armamentos pesados, como fuzis.

Migração

Macaé e Cabo Frio, os traficantes já cultivam os mesmos hábitos dos cariocas: atacam ônibus nas ruas e ordenam toques de recolher para protestar contra mortes de comparsas em ações da polícia ou em confrontos com rivais. As duas cidades de grande potência na área de turismo, há disputas entre as facções rivais com registros de várias mortes.

Macaé possui cerca de 20 comunidades dominadas pelo tráfico, que na década de 2000 era comandada pelo traficante conhecido como ‘Roupinol’, ligado à facção da Rocinha. Entre elas, Malvinas, Nova Holanda, Santanna e Aroeira. O grupo rival ligado a criminosos do Complexo do Alemão controla as localidades de Aeroporto, Linha e Cajueiros. O Morro do Carvão é base da facção que era liderada pelo traficante ‘Matemático’, morto em 2012, no Rio. E agora? Quem são os novos sucessores?