A comemoração de cada gol é um caso à parte, alguns gestos são implacáveis e ficarão para sempre na nossa memória. Lembro do Bebeto na Copa de 94, que corria para fazer o gesto de embalar um neném, em homenagem ao seu filho recém nascido. Bons tempos! E aquela dancinha ensaiada que os jogadores faziam à beira do gramado? E a clássica comemoração: o jogador ajoelhado no gramado com o dedo para o céu, saudando a torcida. Não dá para esquecer a imagem do soco no ar do grande Pelé…
Porém, alguns gestos fugiram à minha compreensão. Nomeadamente, o cavanhaque imaginário que Cristiano Ronaldo cofiava? Até hoje não descobri o que simbolizava. Mas merece destaque o tombo do Tite ao comemorar, principalmente porque seu terno se enrolou. A verdade deve ser dita: ele caiu com a elegância de um atleta, com dois rodopios no gramado. Desesperado, na beira do gramado ele gritava: “Concentra, concentra!” E os jogadores corriam para se concentrarem no centro da área. Um problema grave de comunicação. As laterais vazias, tão vazias que o carrinho de regar a grama, podia passar sem problemas.
O futebol arte aconteceu em raros momentos: aquela tabela perfeita que até o adversário parou para admirar. Os mexicanos logo sentiram que aqui tinha ‘café no bule’. Que pena, o Brasil tinha pouca ‘garrafa vazia para vender’. A verdade é que a ‘esperteza’ do jogador brasileiro não funciona mais, está obsoleta diante da atual modernização do futebol. A técnica venceu a ‘ginga’ brasileira.
O que saltou aos olhos foi o crescente descontrole emocional dos jogadores, em contraste com a sobriedade dos adversários da Bélgica. A razão é bem simples, as equipes européias contam com psicólogos integrando a equipe técnica de apoio. Já no Brasil é uma tradição os técnicos de futebol avaliarem que podem ser eles próprios os ‘psicólogos’ do time.
Provavelmente, enquanto Tite ouve os apelos emocionais dos jogadores, deixa de concentrar-se na dedicação à técnica, que é sua função específica. Mas, prefere ser dona Pata e seus patinhos protegidos, ser a mãe deles. O time não precisa de superproteção, nem futebol é local de trocas afetivas. Não constitui problema algum um técnico que nega-se a ser compreensivo, porque carinho não faz gol. Futebol é esporte pra macho.
Ainda vejo Neymar de braços abertos em campo, exercendo seus plenos poderes, quando repreendia e corrigia cada decisão do juiz. A atitude no mínimo, inadequada. Mas o rosto desse rapaz era só desespero. A facilidade constante em ‘jogar-se’ no gramado, era uma tentativa infantil de dizer: “Olha, o que ele fez comigo!” Vitimização não funciona em situação nenhuma, muito menos numa Copa do Mundo. Sua tentativa de comover não conseguia levar o ‘agressor’ a ser penalizado.
Ouvindo a entrevista do técnico francês, observei sua neutralidade com relação ao time. Ao cometer um erro, o jogador assume a sua falha e pede desculpas àquele que lhe ensinou o correto: o técnico. No Brasil, ao contrário, recai sobre o Tite toda a culpa do fracasso. Isso não é apenas uma injustiça, pelo contrário, é o feitiço contra os feiticeiros. Os brasileiros indignados com as falhas do time apontam ressentidos o erro: aonde foi que o técnico falhou?
Por fim, lamentavelmente, veio a derrota contra a Bélgica e uma bola furada só tem um destino: o caminhão de lixo.
* Humbelina Grilo G. Mattos – Escritora