A imprensa independente da Nicarágua tem sido alvo de ameaças e ataques desde a cobertura dos protestos de 2018 contra o regime

A organização Periodistas y Comunicadores Independientes de Nicaragua (PCIN) denunciou nesta quarta-feira (10) que registrou 52 ataques contra a imprensa durante o processo eleitoral que culminou no domingo com a reeleição de Daniel Ortega pelo quarto mandato consecutivo.

Entre 25 de outubro e 7 de novembro, dia da votação, ocorreram “52 ataques, dos quais seis são considerados crimes, todos cometidos por agentes da Polícia Nacional da Nicarágua”, disse o grupo em relatório preliminar.

Entre os incidentes são mencionados “17 ataques à mídia por tentativa de entrar em centros de votação”, que incluem casos de “perseguição, agressão física, cerco e censura”, disse a organização jornalística.Continua depois da publicidade

“Em 100% dos centros de votação onde foram identificadas equipes jornalísticas de meios independentes, foram fotografadas e captadas em vídeo” pelas autoridades, acrescentou.

Entretanto, “sete equipes de imprensa internacionais denunciaram publicamente ter sido impedidas de entrar no país, no entanto, sabemos de mais casos não notificados por razões de segurança”, disse o PCIN.

Ortega se dirigiu à mídia internacional na segunda-feira em uma cerimônia pública, acusando-os de serem “funcionários de agências de inteligência”. “Esses não entram aqui. Os canalhas têm coragem de nos dizer que querem vir cobrir as eleições, se estiverem nos xingando”, disse.Continua depois da publicidade

No poder desde 2007, Ortega conquistou o quarto mandato consecutivo com 76% dos votos no domingo, em uma eleição em que não teve rivais de peso, porque sete candidatos presidenciais da oposição foram presos e três de seus partidos proibidos.

Durante o processo eleitoral, o PCIN teve conhecimento de “duas detenções de jornalistas, que foram vítimas de abuso de poder ao serem obrigados a usar uniforme de prisão, recolha de impressões digitais sem investigação prévia e furto de equipamento”, segundo o relatório, que não especifica se os comunicadores ainda estivavam presos.

A imprensa também foi vítima de “duas batidas policiais”, 10 casos de “perseguições e ameaças de mobilização de jornalistas em diversos pontos e duas ameaças a jornalistas no exílio estendidas a familiares”Continua depois da publicidade

Soma-se a isso “um ataque cibernético a uma plataforma de informação”.

“Ao aumentar os cercos antes da votação, o regime conseguiu imobilizar equipes de jornalistas que decidiram não sair de casa para não se exporem”, acusou o PCIN.

A imprensa independente da Nicarágua tem sido alvo de ameaças e ataques desde que cobriu os protestos que eclodiram em 2018 contra o regime, cuja repressão deixou mais de 300 mortos, segundo grupos humanitários.

Fonte: NTN24 / AFP