Educar, conscientizar e resgatar memórias através de uma história em quadrinhos. Esse é o intuito do e-book gratuito que será lançado na próxima segunda-feira (16), o qual narra, de forma lúdica, a trajetória do líder quilombola Antônio Moçambique, que lutou contra a escravidão em terras fluminenses. Esta é a primeira obra sobre Carukango voltada ao público infantojuvenil em Macaé e região e é idealizada por Marcelo Fonseca, diretor da Outrar Produções.

O livro digital conta os passos de quem se tornou um símbolo de resistência. “A história do Brasil sempre foi narrada pelo ponto de vista do colonizador, porém, como compreender movimentos tão complexos como foram os que construíram o país? Como deixar de perceber os interesses entre as classes ‘dominantes’ em silenciar determinadas vozes envolvidas neste processo? Por que estudamos episódios históricos de países do outro lado do mundo enquanto desconhecemos histórias no nosso município, da nossa rua?”, questiona o idealizador e diretor de produção, Marcelo Fonseca.

Segundo a escritora, o projeto contribui para a valorização da população negra. “Este público gosta muito de histórias contadas também com imagens, o que favorece uma leitura mais rápida, mas nem por isso menos densa. E o e-book fortalece ainda a autoestima de jovens negros, que há poucos anos só se viam em materiais escolares como vítimas de violência e não como heróis”, destacou Daiana de Souza.

Carukango foi uma figura emblemática no interior do estado do Rio de Janeiro. Fundador de um quilombo no século XIX, ele cravou o nome nas cidades do Norte Fluminense. Foi em Macaé, que ele estabeleceu o próprio quilombo, mais precisamente, nas montanhas da Serra do Deitado, na região serrana, compreendendo também o município de Conceição de Macabu. Nele, ele travou grandes batalhas em prol da comunidade.

Responsável pela ilustração, Rodolfo Ribeiro afirma que avaliar as dificuldades enfrentadas pelo povo negro foi determinante para a criação dos personagens. “Refleti sobre a população que ainda está aqui, que resiste ao racismo, desigualdade social e preconceito. Como artista, devo propor e levantar essas pautas, as mulheres que lutam pela liberdade, de exercer pensamentos, espiritualidade e orgulho das próprias origens”, disse.

Para Fonseca, o livro enaltece o herói regional sob uma visão decolonial. “Em um contexto que o eurocentrismo está enraizado na percepção da sociedade, em um ensino que sofre graves distorções até hoje porque a narrativa geral dos livros é pouco mais que a história europeia, é que surge esse conto em quadrinhos fortalecendo a realidade preta, quilombola, fluminense e 100% brasileira”, ressaltou.

E completa dizendo: “O ineditismo está aí, em não apenas realizar a pesquisa, mas documentar a história de Carukango por um olhar não enviesado, pois as narrativas literárias existentes sobre esse líder, revelam uma perspectiva a partir do olhar do colonizador, escritas por aqueles que o exploraram, por uma sociedade escravocrata, que colocavam Carukango como um homem cruel e que conversa com ‘demônios’, narrativa que perdura há anos”, concluiu.