Por Fernando Scheller, Cátia Luz, Mônica Scaramuzzo e Andrei Netto

As duas líderes no varejo de alimentos no Brasil estão travando uma briga global relativa a um processo de fusão. No domingo, 23, à noite, o Casino – dono do Grupo Pão de Açúcar (GPA) – divulgou não ter interesse em uma proposta de fusão feita pelo Carrefour, seu principal rival. Na segunda-feira, 24, porém, o Carrefour negou que tenha considerado a união de negócios e disse que poderia acionar o concorrente na Justiça.

Em um ponto, no entanto, as duas partes concordam: houve uma reunião entre Carrefour e Casino no último dia 12, em Paris. A informação foi confirmada ao jornal O Estado de S. Paulo por fontes próximas às duas varejistas. A partir daí, as versões se distanciam: pessoas ligadas ao Casino disseram que o movimento partiu de Alexandre Bompard, presidente do Carrefour. Já fontes próximas à rival dizem que a ideia da reunião foi do Casino – que também teria tido conversas com outras varejistas.

Pessoas ligadas ao Casino afirmam, ainda, que, na última sexta-feira, dia 21, o dono do GPA teria solicitado a assinatura de um documento em que o Carrefour se comprometia com uma cláusula que impedia uma compra hostil. A partir da negativa, o conselho da varejista decidiu se reunir e anunciar que não tinha interesse na proposta do Carrefour.

O jornal O Estado de S. Paulo apurou que quatro assessores estariam envolvidos nas conversas: Lazard e Goldman Sachs (pelo Carrefour) e Bank of America Merrill Lynch e Rothschild (Casino) Procurados, Bofa Merrill Lynch, Goldman Sachs e Rothschild não comentaram; Lazard não respondeu o contato.

Outra figura importante nas conversas foi a do consultor francês Alan Minc – segundo fontes, a reunião do dia 12 aconteceu no escritório dele, que seria próximo do alto escalão do Carrefour.

Momento delicado

Os comentários sobre a fusão vieram em um momento delicado para o Casino. As ações da empresa chegaram ao menor valor em dez anos em 31 de agosto, antes de recuperar parte das perdas em setembro, já de carona nos primeiros rumores sobre a fusão agora descartada por ambas as partes.

Um dos motivos de suposta desconfiança dos investidores em relação ao Casino seria o peso da dívida – a Rallye, holding do grupo, devia € 3,7 bilhões em dezembro de 2017 -, o que levou o conglomerado a se desfazer de operações. A frequência e a intensidade das oscilações na bolsa de valores, porém, fez a dona do Grupo Pão de Açúcar suspeitar de ataques especulativos coordenados.

Antes da tentativa de aproximação frustrada, os dois grupos vinham ampliando as frentes de concorrência. Depois que o Casino firmou um acordo operacional com a Amazon para distribuição de produtos na web, Carrefour investiu em um acordo com o Google.

Uma fusão criaria um gigante francês e mundial que reuniria marcas como Carrefour, Casino, Monoprix, Franprix, Leader Price e Naturalia. Na França, hoje o Carrefour é a rede número dois, enquanto o Casino ocupa a terceira posição.

No Brasil, bandeiras como Atacadão, Assaí, Pão de Açúcar e Extra seriam afetadas, além de Ponto Frio e Casas Bahia, controladas pela Via Varejo (do GPA). Fontes ligadas às duas companhias admitiram que a fusão provavelmente enfrentaria dificuldades para ser aprovada por órgãos de proteção à concorrência, já que Carrefour e Casino são as líderes de mercado por aqui.

A negociação também poderia reforçar a posição dos dois grupos na transformação digital pela qual o setor supermercadista começa a ser afetado. Desde o início do ano os dois grupos estão em baixa nos mercados financeiros. Casino já perdeu cerca de 30% de seu valor, enquanto Carrefour perdeu cerca de 10%. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

Fonte: Estadão conteúdo