A cada tempo que passa somos surpreendidos por novas modalidades de crimes. Há 40 anos seria inimaginável pensarmos que os fios e cabos dos postes seriam furtados em qualquer canto da cidade. O furto não é um crime novo, mas desse tipo de material chega ser surreal e as medidas protetivas e de combate a eles parecem inexistir. Dessa forma, o cidadão muitas vezes fica sem trem, sem luz, sem internet, ou seja, sem serviços básicos.

Cabos de toda a espécie alimentam uma rede (sem trocadilho) criminosa embaixo das barbas das autoridades. Somente entre janeiro e agosto de 2023, houve um aumento de 24% com relação ao mesmo período do ano anterior. Rio Luz, Supervia e tantas outras operadoras tem sofrido constantemente com essa onda de furtos, o que impacta diretamente a população. Recentemente, boa parte de Copacabana sofreu na pele os efeitos desse cenário, ficando no escuro por horas. Na Ilha do Governador a história foi a mesma.

No primeiro semestre de 2022, a conta do furto para rede de energia elétrica, por exemplo, foi de mais de R$ 1, 5 milhão. Em 2023, no mesmo período, o prejuízo ultrapassou os R$ 4,7 milhões, três vezes mais.

Sinais de trânsito, rede ferroviária, fios da iluminação pública, rede de telefonia e internet são alvos desses ladrões que não agem sozinhos. Sim, pois eles atendem a ferros-velhos que atuam de forma irregular, inclusive na calada da noite e sem serem importunados pelas autoridades. Em maio do ano passado, operação da polícia civil apreendeu quase uma tonelada de cabos furtados da rede de trem num ferro-velho da Zona Norte da Cidade. Infelizmente, essa foi uma ação isolada, o que demonstra que é preciso uma ação de inteligência mais efetiva, mapeando a rota desses furtos, prendendo os receptores e fechando tais estabelecimentos.

Levantamento da própria imprensa, revelou que o quilo do fio de cobre descascado vale R$ 30, o que precisa ainda ser descascado R$ 20 e o queimado R$ 25. E, assim, fica estabelecido esse mercado clandestino que, diante da tamanha quantidade furtada, impulsiona a prática ilegal e movimenta milhões de reais, deixando a população do Rio fora do ar, desconectada, no escuro e muitas vezes a pé.

Em alguns países, todo o cabeamento e fiação são subterrâneos e isso poderia ser um caminho. Entretanto, por aqui, as próprias tampas das galerias também são objetos de furtos, o que nos levaria a combater tal comércio que, de novo, tem destino similar. Como dizem por aí, no Brasil não tem amadores. A que ponto chegamos!

Por *Marcos Espínola *Advogado criminalista e especialista em segurança pública