Por Alfeu Valença

Em 2020, a editora Planeta publicou o livro “As Leis Fundamentais da Estupidez Humana”, do italiano Carlo M. Cipolla que, graças a generosidade de um primo, somente agora me chegou aos olhos. Devorei. E não serei egoísta.

O autor formula cinco leis da estupidez humana, e eu, sem me aprofundar em nenhuma delas, tentarei resumir – com objetividade – a essência da teoria interessantíssima do Cipolla, que pode, ou não, ajudar a entender a realidade brasileira.

Classificando as pessoas em bandidos, vulneráveis, inteligentes e estúpidas, ele explica: quando uma pessoa faz uma coisa que resulta em ganho dela e em perda nossa, nós lidamos com um bandido. Quando uma pessoa faz uma ação que resulta em uma perda sua e em ganho nosso, temos uma criatura vulnerável. Por outro lado, se a ação daquela pessoa resultou, simultaneamente, em ganho nosso e dela, estamos lidando com uma criatura inteligente.

Todavia, é fácil admitir que esses não são acontecimentos corriqueiros em nossa vida. O dia a dia é feito de casos em que perdemos dinheiro, tempo, energia ou até saúde, devido à ação executada por alguém que a realiza mesmo não ganhando nada, ou muito pouco, mas nos traz prejuízos ou dificuldades. Ninguém entende por que aquele ente faz aquilo. Não há explicação? Na verdade, há uma única: a pessoa em foco é estúpida.

Os estúpidos normalmente causam perdas limitadas. Todavia, em muitos casos, podem provocar danos de grande monta não apenas a um ou dois indivíduos, mas a comunidades ou sociedades inteiras. Danos colossais são gerados quando uma pessoa estúpida ocupa posição de poder e importância. E não é difícil encontrar estúpidos entre burocratas, militares, políticos, religiosos e chefes de Estado.

Indivíduos essencialmente estúpidos são perigosos porque pessoas racionais têm dificuldade de compreender o comportamento irracional. Vejam que alguém inteligente consegue entender a lógica de um bandido, que segue um padrão de uma racionalidade suja, mas ainda assim racional. Um bandido quer ganhar um extra e, como não é suficientemente inteligente para criar maneiras de obter aquele ganho gerando também um lucro para você, ele vai atingir o seu objetivo mesmo causando-lhe prejuízo.

Tudo isso é ruim, mas é previsível para as pessoas racionais. Assim, as atitudes de um bandido podem ser antevistas e combatidas previamente. Já com um estúpido, isso é impossível porque ele vai molestar você sem nenhum motivo, por nenhuma vantagem, sem plano e nos momentos e lugares mais improváveis. Assim, diante de uma pessoa estúpida você não tem como se defender e fica totalmente à mercê dela. Devia ser nisso que o filósofo alemão Friedrich Schiller pensava quando escreveu “contra a estupidez, os próprios deuses lutam em vão”.

A pergunta que as pessoas sensatas fazem é: como e por que pessoas estúpidas são alçadas a posições de relevância? Cipolla explica: Na antiguidade, as castas eram fatores importantes para ocupação das posições de poder. A religião era outro fator de influência. No mundo moderno, as castas foram banidas e a religião perdeu força. Os partidos políticos sucederam as castas e a democracia substituiu a religião. Já vimos que a falta de racionalidade impede que os estúpidos sejam identificados com facilidade até pelos inteligentes, e isso faz com que o sistema democrático se torne num instrumento eficaz para ascensão dos estúpidos, seja pelo grande número de votos de pessoas desavisadas (inteligentes ou vulneráveis), ou pelo apoio político de bandidos que caem na tentação de se associar a um indivíduo estúpido, pensando em utilizá-lo em seus próprios interesses ou esquemas.

Todavia, uma vez eleito o estúpido, essa associação tem efeito desastroso porque o comportamento instável e irracional dele no poder vai pulverizar as intenções daqueles que o apoiaram. Obviamente, o resultado dos estúpidos no poder é uma gestão pública da pior qualidade pois, como já vimos antes, as pessoas estúpidas causam perdas a outras pessoas mesmo sem contrapartida de ganhos para si mesmas.

Assim, a sociedade como um todo fica empobrecida e nós, abaixo da linha do equador, conhecemos isso muito bem.

Por Tempo Real RJ