Imagens foram filmadas por aluno no Ciep Mestre Marçal, em Rio das Ostras. Aluno rasga prova e quebra o quadro
Imagens que circulam em redes sociais mostram um professor sendo agredido e humilhado na sala de aula do Ciep Municipal Mestre Marçal, em Rio das Ostras, na última terça-feira (18). Durante três minutos de filmagem, alunos do 9º ano ofendem o professor, que demonstra calma em todos os momentos. Um dos adolescentes chega a arremessar uma pochete na direção do professor quando ele escrevia no quadro. O professor questiona se a intenção era atingi-lo e outro aluno responde: “‘Peraí’ que agora vai acertar”.
O aluno chega a fazer ameaças graves quando é questionado por um colega. Os vídeos foram filmados por um estudante do colégio enquanto a turma fazia prova. Em outro momento do vídeo, o mesmo adolescente que arremessou a pochete amassa a prova na frente do professor. O jovem também tenta destruir as provas dos colegas e quando rasga uma folha, o colega debocha: “Aí, professor, acabou a prova!”.
A gravação, que foi editada, mostra outro rapaz quebrando o quadro. Durante todo o tempo em que os jovens cometem os delitos, os colegas brincam e estimulam os atos.
O episódio viralizou nas redes sociais e ganhou repercussão nacional, sendo notícia nos principais telejornais na TV. A vítima, o professor de língua portuguesa Thiago dos Santos Conceição, de 31 anos, define a rotina no Ciep Mestre Marçal. Segundo ele, agressões são constantes, mas sempre acreditou que ia ‘resolver com o diálogo’. “Eu desejo continuar com a minha profissão, mas temo pela minha vida”, destacou o docente.
Depois do episódio, o professor, que exerce a profissão há anos, pediu afastamento porque não tinha condições de voltar a dar aulas para os jovens. Thiago tem a consciência de que não é um caso isolado e que outros professores no Rio de Janeiro e em outros estados passam por situações semelhantes a dele.
Thiago começou a trabalhar no Ciep em fevereiro, no começo do ano letivo.
Jovem pede desculpa
Após a grande repercussão, um dos estudantes que participou da ação publicou um vídeo em uma rede social pedindo desculpas. Sem se identificar, o jovem diz que reconheceu o erro, que não gostaria de tratar o pai ou o irmão da mesma forma e que “não raciocinou” sobre as consequências no momento da ação.
“Ninguém é perfeito. Todo mundo já teve um momento de criança. Queria pedir desculpa pelo acontecido, pelo fato de ter feito o que eu fiz na sala de aula. De ter tacado o objeto no quadro, que quase pegou nele (professor), de ter ficado brincando com a prova dele em horário de prova. Nenhum ser humano gosta de ser tratado assim, mas na hora do embalo acaba fazendo, não raciocinando as consequências. Por isso estou aqui pedindo desculpas pelo acontecido, pelo que eu fiz. Reconheço o meu erro. Só isso. Só pedir desculpas. Sei que errei. Errei com o professor. Não gostaria de ter tratado meu pai, meu irmão, nem ninguém da minha família. Depois que a gente faz e para pra raciocinar vê que a gente errou. Esse bagulho é mó responsa. Por isso estou pedindo desculpas a você, professor, pelo Facebook que me entendeu mal. Isso é coisa de marginal, de vacilão, entendeu? A gente tá na escola pra estudar, não é pra ficar debochando da cara de ninguém. Especialmente do professor que não está ali de bobeira ou porque quer, está ali porque tá precisando de dinheiro, fazendo por amor. Isso foi muita mancada minha mesmo. Vacilei. Reconheço o erro. Estou pedindo desculpas pelo meu erro”, afirmou o estudante, que não se identificou, no vídeo publicado no Facebook.
NOTA OFICIAL
Por meio de nota, a Secretaria de Educação de Rio das Ostras disse que as agressões foram informadas pelo professor à ouvidoria na última terça-feira (18). Segundo o município, o professor relatou que sofria agressões verbais, inclusive de cunho racista, e que a secretaria começou a avaliar as medidas a serem tomadas para dar suporte ao educador.
A nota diz ainda que os alunos envolvidos foram imediatamente suspensos após o episódio e que outras medidas socioeducativas estão sendo analisadas e podem ser tomadas.
“Segundo a direção da escola, a turma é formada por alunos que vieram transferidos de outra unidade de ensino, e muitos deles são indisciplinados. No entanto, ainda não tinham sido registrados episódios como os ocorridos nesta semana”, pontua a nota.
A prefeitura afirma que o professor receberá todo o suporte jurídico e psicológico, e que tomará medidas para que o apoio aos educadores, também na área psicológica, seja ampliado.