Dia Nacional do Livro é celebrado nesta quinta-feira (18); escritoras comentam sobre inclusão social em suas obras

 

Os contos de fadas ligados à literatura infantil estão dando cada vez mais espaço às histórias reais, que falam sobre inclusão social, diversidade cultural e sobre a importância de conviver harmonicamente. Hoje, 18 de abril, Dia Nacional do Livro Infantil, é uma oportunidade de homenagear escritoras que traduzem em suas obras temas tão importantes para a formação de todo ser humano.

“As crianças são leitoras exigentes. Exigem que você trate de temas que são relevantes para elas”, considera a escritora Palmira Heine, autora de nove livros infantis e docente da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Para ela, o desafio é tratar os respectivos temas de uma maneira adaptada à linguagem infantil. “Muitas pessoas confundem: ah é criança então tem que contar uma história bobinha. Não. Precisa ser adaptado ao universo infantil, usando metáforas sobre a questão do respeito, das diferenças. Por exemplo: você traz um rei que não gosta do colorido. Isso é uma metáfora para dizer que a gente tem que respeitar a diferença, a diversidade, a opinião contrária ou o que não concorda”, explica.

Tão importante para a escrita, a inspiração vem de fontes diversas, inclusive do cotidiano, como ilustra a obra Bruna – uma amiga down mais que especial, primeiro título infantil produzido por Celina Bezerra, cuja ideia foi motivada em uma situação ocorrida na escola da filha. “Todos que leem dizem que gostam porque se veem representados. Não só as crianças com alguma deficiência, todas se encontram na questão dos valores inclusivos, do respeito, cooperação, cuidado, solidariedade com o coleguinha que tem alguma deficiência”, destaca.

Também professora da educação básica, Bezerra observa que há grande adesão do público às suas obras, mas afirma que a grande questão é despertar a sensibilidade dos docentes em relação à diversidade. “Todo o ser humano pode aprender. Ele pode ter uma limitação, um tempo diferente, mas ele vai aprender desde que seja oportunizado o aprendizado”, afirma. Por se dedicar a escrever sobre inclusão social para crianças, o bullying é outro fator observado por Celina. De acordo com a escritora, quando o tema é abordado desde a primeira infância, certamente, o colega será aceito com todas as suas potencialidades e limitações. Os maus tratos deixam, então, de existir.

Em seus processos criativos, as escritoras Palmira e Celina buscam ouvir sugestões dos seus pequenos leitores e observar os comportamentos infantis. Exemplo disso é a obra Chapeuzinho no Pelô que surgiu de uma observação de uma pequena leitora. “Ela falou pra mim: ‘poxa, eu queria tanto ver livros assim, mas que trouxessem coisas da Bahia’. Achei bastante interessante a observação espontânea e comecei a pensar de qual forma poderia trazer a cultura baiana em uma história para atender esse pedido. Daí, veio a ideia de relacionar o conto de fadas com a Bahia”, conta Palmira.

Ambas preparam lançamento de novas histórias: Celina Bezerra prepara para maio de 2019 o lançamento de Sabrina: a menina albina; em junho, Palmira Heine deve lançar Mila, a pequena sementinha. “Fico muito grata quando vejo as crianças lendo e gostando, me dando feedback e interagindo. Gosto de poder contribuir também para formação desses leitores”, expressa Palmira.

 

As tirinhas do “Fala Menino!”

Ao falar de inclusão, não tem como esquecer os quadrinhos do “Fala Menino!” assinados por Luís Augusto Gouveia (1971 – 2018) que foi um desenhista, escritor e cartunista brasileiro. Suas tirinhas possuem uma sensibilidade para tratar da diversidade, deficiências físicas, racismo, entre outros temas de forma lúdica que contribuem até hoje para que a criança tenha voz atuante na sociedade.

Além do protagonista, Lucas, que é mudo, os demais personagens ampliam o leque da diversidade: Rafael é cego, Mirela é surda, Mateus é autista, Esmolinha e Diogo são crianças de rua. E os leitores, com certeza, crianças mais conscientes e inclusivas.