Nos despedimos de nosso passado da pior forma possível. O incêndio que transformou 20 milhões de itens de nossa história, em cinzas, chama atenção para um problema antigo, entranhado no cerne da política brasileira: a má gestão do dinheiro público. 200 anos de história foram consumidos pelas chamas e nem sequer tínhamos água para impedir essa tragédia.
De acordo com dados do Siga Brasil, projeto do Senado Federal que monitora o repasse de verbas no orçamento da União, nos últimos cinco anos, a verba pública para a manutenção do Museu Nacional sofreu sucessivos cortes. Com a falta de manutenção adequada, o Museu apresentava sinais de má conservação, com fios elétricos que saltavam os olhos pela precariedade, paredes descascadas e infestações de cupins.
Em 2018, a previsão de repasse era de apenas R$ 205.821, enquanto o local demandava uma verba de R$ 550 mil para se manter. Não estamos só carentes de políticas públicas que defendam nossos museus, nossa carência é generalizada. Áreas que são primordiais para a qualidade de vida do cidadão, para preservação de nossa memória histórica, permanecem abandonadas à própria sorte.
Enquanto o ciclo vicioso da improdutividade se alastra, o povo brasileiro ajuda a financiar projetos artísticos e culturais que não exercem nenhum impacto direto em sua vida. Não é uma questão de não gostar de Claudia Leite, Luan Santana, ou outros artistas que receberam milhões pela Lei Rouanet. O ponto central é que essa alta quantia de dinheiro deveria ser investida na disseminação da cultura no ambiente escolar, dada a sua importância no processo de aprendizagem.
Assim nossos chefes de família poderiam ver o dinheiro que destinam aos impostos sendo devidamente utilizado na formação de seus filhos. Nenhum trabalhador que dá duro para garantir a sua sobrevivência e de sua família gostaria de ver o seu dinheiro sendo utilizado de forma pouco produtiva, enriquecendo artistas que já ganham milhões por mês, uma quantia que a maioria da população jamais ganharia em 1, 2 ou 3 anos de muito trabalho.
Enquanto não sairmos da passividade e não acompanharmos os mandatos de nossos representantes na política, continuaremos sofrendo duras penas. Somente com o exercício pleno da cidadania seremos capazes de virar o jogo.
* Paulo Ganime é Economista e ex Gerente Financeiro da Michlelin na França.