É o Amor
Após um longo tempo sem se verem, dois amigos se encontram e, após um forte abraço, começam a conversar. Um deles, que vive na Europa, traz consigo a inquietação do que vem observando no Brasil. “Você acredita que, em uma estação de metrô em Estocolmo, há uma catraca para passagem grátis para quem não tem dinheiro? Vi que ninguém a usava, enquanto a fila da catraca paga era imensa!” A incredulidade se misturava à admiração. “Eu acredito sim! E acho que estamos, de alguma forma, buscando essa excelência de honestidade. Um povo honesto é mais feliz!” O outro amigo concorda, mas logo a conversa toma um rumo mais sombrio, lembrando dos políticos que, segundo ele, dificultam essa busca. “Com esses políticos, vai demorar! Mas o povo brasileiro é muito amoroso.”
O tom nostálgico se intensifica quando um deles menciona Mizael, primo de Ivo, aquele botafoguense roxo que sempre contava as histórias mais engraçadas e agora, com o botafogo campeão, deve estar insuportável. “É verdade! Mizael se tornou alcoólatra e vive sozinho agora. Poxa, gostaria de vê-lo, ele era tão forte!” E assim, um relato se desenrola, trazendo à tona uma memória doce e dolorosa. “Certa vez, estava em um bar tomando um café quando avistei Mizael com seus dois cachorros, amigos inseparáveis. Ele me pediu para pagar um lanche. Pedi ao Zé Mengão um pão com manteiga e um copo de café com leite. Mizael tomou o café, e, escondido, colocou o pão no bolso. Agradeceu e foi embora. Houve um silêncio reflexivo, até que um deles completa o relato. “Fiquei observando e vi que, ao chegar na esquina, ele tirou o pão e deu uma banda para cada cachorro. Mesmo com fome, ele dividiu seu pão com os amigos. Chorei!” As emoções afloram, e um deles diz: “Olha! Também estou chorando. Essa emoção só sinto quando estou aqui no Brasil.”
A conversa se aprofunda em reflexões sobre honestidade e amor, e o desejo de um mundo ideal ressoa entre eles. “Se uníssemos os dois povos em honestidade e amor, teríamos um mundo ideal”, sugere um deles. “Já disse Jesus!” conclui o outro, com um sorriso nostálgico.
E assim, entre risos e lágrimas, eles percebem que, mesmo em meio às dificuldades, a vida é feita de pequenos gestos de amor e solidariedade, como o de Mizael, que, em sua simplicidade, nos ensina que compartilhar é, afinal, o maior ato de amor.
Guto Sardinha