Em algum momento da década de 1980, o ministro Hélio Beltrão foi muito feliz ao dizer que “os dois maiores inimigos da Petrobras são a desinformação e o preconceito“. De lá para cá, muitas coisas aconteceram no Brasil e no mundo, mas a frase continua válida. A dúvida que fica é saber qual é o mais influente dos dois substantivos. Aqui tentaremos eliminar essa dúvida.

Fazendo cócegas na memória, não me foi difícil relembrar que alguns conceituados jornalistas, cheios de arrogância, afirmaram que o petróleo do pré-sal era puro marketing político do governo da época, já que nunca seria produzido por falta de tecnologia. Eu, concordando com Hélio Beltrão (quanta saudade!), não estranhei, e nem procurei confirmar, de onde eles tiraram aquela certeza que contrariava a internacionalmente reconhecida capacidade da Petrobras de criar tecnologias, sempre que foi necessário.

Pois bem, fazendo contraponto a isso, o pré-sal já produz mais de 3 milhões de boe (barris de óleo equivalente), cerca de 75% da produção nacional de petróleo. E mais, a OTC – Offshore Technology Conference, em Houston – Texas, acabou de conferir à brasileiríssima Petrobras, pela QUINTA VEZ, o prêmio OTC Distinguished Achievement Award 2024 (considerado o Oscar da indústria petrolífera mundial), pelo desenvolvimento de tecnologia própria, bem tupiniquim, que permitiu que isso acontecesse. Faço questão de registrar que, anteriormente, a companhia já tinha sido agraciada com o mesmo prêmio em 1992, 2001, 2015 e 2020.

Bem antes da descoberta do pré-sal, o economista e embaixador Roberto Campos, notório admirador do povo norte-americano (e por isso jocosamente alcunhado de Bob Field), pregava que a Petrobras, apelidada por ele de “Petrossauro”, deveria ser privatizada e o monopólio quebrado, afirmando em alto e bom som que “Se a Petrobras é eficiente, não precisa do monopólio. Se é ineficiente, não o merece”.

Note-se que na sua visão havia um erro de origem. O monopólio nunca foi da Petrobras, e sim da União, como estabelece em seu artigo primeiro a lei 2004, de 03 de outubro de 1953. Na mesma lei, a Petrobras foi criada, não como estatal, mas como empresa de economia mista com ações vendidas no mercado, para operacionalizar o monopólio por delegação da União.

Infelizmente, com sua morte em 2001, ele não pode reconhecer a falácia da sua afirmativa, comprovada pelo crescimento extraordinário da Petrobras após a quebra do monopólio em 1997, mostrando que ela era eficiente e o merecia.

Mais recentemente, não foram poucas as declarações de formadores de opinião, afirmando que, com o abandono da política de paridade dos preços do petróleo nacional com os preços internacionais, a Petrobras iria falir em pouco tempo. Simultaneamente, preconizavam que uma possível redução do volume de distribuição de dividendos aos acionistas faria as ações perderem valor e interesse dos investidores.

Pois bem, atualmente os meios de comunicação estão cheios de informações dando conta que a produção média nacional de petróleo e gás bateu recorde em 2023, e que as ações da Petrobras alcançaram, neste início de fevereiro, maior valor da sua história no mercado financeiro.

Por tudo isto, creio que não seria descortês, nem petulante, e o ministro Beltrão concordaria de bom grado, se modificássemos a sua célebre frase, eliminando o substantivo desinformação e mantendo o preconceito, concordam?

Mas, por que Tom Jobim no título deste artigo? Ora, entra com o acerto da sua famosa frase: “No Brasil, sucesso é ofensa pessoal”.

Por Alfeu ValençaAlfeu Valença é ex-presidente da Petrobrás e fundador da CONPET – Consultoria e Engenharia de Petróleo.