Wanderley Gil

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade de Macaé possui atualmente 244.139 habitantes e aproximadamente 115.000 veículos registrados na cidade, de acordo com o DETRAN/RJ.

Macaé já ostentou a marca de ser a cidade que mais empregou no País e, devido a essa crescente, passamos de uma cidade do interior para a Capital Nacional do Petróleo (sem infraestrutura, preços surreais, trânsito caótico, sinalização precária, preparo incompatível, diversidade de condutores com culturas e dirigibilidade distintas devido ao grande número de veículos flutuantes que circulam na cidade e etc., com a crise, veio o desemprego e o pouco que havia evoluído vimos ser desfeito.

A tal crise, que até hoje perdura somente no contexto da palavra e não na profundidade de seu significado, trouxe para Macaé insegurança, instabilidade no mercado, aumento na corrupção e a completa desatenção com aqueles que movem a máquina da Administração Pública, principalmente aqueles que são da linha de frente. Aqueles que estão na rua e são os primeiros a terem contato com os milhares de cidadãos que circulam pelos bairros da Cidade todos os dias – os Agentes de Fiscalização de Trânsito e os Guardas Municipais.

Os Agentes de Fiscalização de Trânsito, em sua atividade diária, no exercício de suas atribuições, estão expostos a inúmeros riscos à sua vida, como agressões físicas, abordagens a veículos com criminosos, como já ocorreu por diversas vezes, apoio em operações a órgãos de segurança pública e aos próprios riscos inerentes do trânsito em si devido ao aumento crescente da frota de veículos em nossa cidade.

A função social do Agente de Fiscalização de Trânsito e a importância essencial deste para o bom funcionamento da cidade necessita de uma política de valorização do Agente que garanta a padronização no reconhecimento profissional e, por parte deste, consequente condução/orientação para ações seguras no trânsito do Município.

Vimos ao longo dos anos um setor de estrema importância – Educação no Trânsito – ser praticamente dizimado de suas atribuições. Fazer educação para o trânsito é algo que transcende as aplicações rotineiras, passa por discussões sobre o exercício de cidadania, a mobilidade e acessibilidade para todos, os papéis assumidos ao circular, o compartilhamento do espaço, o meio ambiente a história de cada local, a capacidade de uso e participação consciente do espaço público, uma vez que, ao circular, as pessoas estabelecem relações sociais, compartilham os espaços e fazem opções de circulação que interferem direta ou indiretamente na sua qualidade de vida e daqueles com quem convivem nesse espaço.

O trabalho do Agente de Fiscalização de Trânsito exige muito de suas capacidades mentais, físicas e psicológicas e está em constante estresse, arriscando sua vida diariamente no caótico trânsito, apoio em sinalização de trânsito diretamente na via ou em cruzamentos, acidentes, chuva, sol, ameaças… e etc. São 24 horas operando o trânsito seja por semáforo apagado, acidentes na via, horário de rush, obras nas vias, fazendo remoção de veículos estacionados irregularmente, sofrendo ameaças e xingamentos e por aí vai.

Os Agentes de Fiscalização de Trânsito hoje trabalham sem segurança, sem apoio advocatício ou administrativo. Tem disponível para descanso em sua jornada 2 contêineres (alojamento) e outros 2 contêineres (para uso de necessidades fisiológicas) em condições insalubres e no meio dos ratos. Contêineres esses que são alugados por um valor muito alto e que deveriam sofrer a rotineira manutenção como versa o contrato de terceirização, no entanto, preferem corromper a dignidade do Agente do que exigir os termos contratuais, onde uma simples fiscalização constataria os detalhes desse comentário em sua forma bruta.

Para se construir um alojamento com banheiro digno e durável gasta-se menos do que 1 ano do valor do contrato de aluguel dos contêineres e para manter, depois de pronto, o valor é 14 vezes menor. O Fundo Municipal de Transporte e Trânsito, até a data de 31 de outubro de 2018, arrecadou R$ 14.878.115,18, ou seja, um superávit em mais de R$ 2.700.000,00 com relação ao previsto na Lei Orçamentária.

Existem diversas demandas que devem ser revistas na Secretaria de Mobilidade Urbana, mas por forças desconhecidas, nada muda: O V.L.T. que não se sabe que destino dará, a sede da Mobilidade Urbana que é uma obra que não termina desde 2014, a sinalização precária, os terminais que estão em estado deplorável… A maioria dos órgãos públicos deve ter seus problemas, cada um dentro de sua particularidade, mas a dignidade e o respeito jámais devem faltar. Muitas pessoas adoecem no seu local de trabalho e essa manifestação cresce a cada dia no âmbito corporativo mundial. A influência de um gestor pode fazer a diferença na prevenção e cura deste mal coletivo.

Ao preservar a integridade do servidor, a Secretaria de Mobilidade Urbana evita também de ser um ambiente doente e de produzir gente infeliz e enferma. Ao agir pensando em seu servidor a Secretaria só ganha, pois reduzem possíveis gastos com absenteísmo, licenças e gera um bem-estar coletivo. Investir na qualidade de vida do servidor valoriza a secretaria internamente e externamente. Este é o agir correto, valorizar o capital humano, bens tangíveis são facilmente duplicados, mas o ser humano, não.

É dever da gestão de pessoas investir em ambientes de alta performance, confiança, aprendizado e bom humor. Ao preservar a saúde do profissional este terá condições de usufruir com qualidade o bem de todo seu trabalho. Cabe ao gestor ter uma visão global de todo processo e viabilizar práticas que favoreçam a saúde de seus profissionais. É necessário enxergar o servidor como peça principal, reconhecendo nele primeiramente o lado humano, suas necessidades de bem-estar e de satisfação pessoal. Embutindo nele a importância de seu trabalho na organização. Transparência, equilíbrio, criatividade, respeito e diálogo são ações fundamentais para se ter sucesso e evitar o adoecimento do profissional e consequentemente da Secretaria.

* Leandro Aracati – (MBA em Gestão Pública, Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental e Pós Graduado em Ciências do Trânsito)