Viver a novidade… viver o instante presente… Como viver o tempo de um presente que escorre diante de nós? Como viver a dimensão da vida que chamamos de tempo, mas, na dimensão infinitiva do verbo? Como viver o silêncio que podemos encontrar em nós mesmos?

Estas questões são fundamentais para pensarmos que a condição humana é afetada pela dimensão que denominamos como “tempo”. As sociedades se organizaram através da dinâmica mutante e móvel da natureza. Esta se modifica através dos ciclos das estações. Mesmo a experiência de vivermos a jornada de um dia. Quantas transformações são vividas no espaço de um dia?! Os matizes do sol que se modificam no curso de um dia… as sombras de uma árvore que se desenham de formas diferentes no chão… as nuvens que vem cobrir a luminosidade do sol, modificando a paisagem… A estas modificações no curso da vida, as durações das coisas que compõem a vida chamamos por “tempo”, “temporalidade”.

Viver o tempo será se debruçar na “janela do tempo”. No presente que vivemos aqui-e-agora, podemos ter as imagens de situações passadas que invadem a nossa mente, fazendo emergir emoções que estavam escondidas, “dormindo” em nosso corpo. No instante seguinte, algo nos toca, talvez, uma música que faz brotar imagens de situações que ainda viveremos, ou seja, brotando imagens daquilo por vir, daquilo por viver! O futuro invade o presente instante de nossas vidas, brotando, também, emoções que estavam de um jeito e que, agora, são de outros modos. No presente aqui-e-agora se abre uma janela do tempo que faz nascer imagens já vividas ou ainda por viver. Assim, podemos sentir no presente algo que já passou e algo ainda que virá! Claro, não podemos viver a abertura da janela do tempo permanentemente, senão, viveremos o tempo do passado-presente ou do futuro-presente. Deixamos de viver a temporalidade do presente-presente. O grande presente que poderemos nos dar é a vivência do presente-presente! É no presente que podemos nos encontrar com a novidade!

No entanto, nos habituamos a colocar a direção da mente, da nossa consciência, nas imagens do passado ou do futuro! Desencarnamos a nossa mente daquilo que está acontecendo no aqui-e-agora de nossas vidas! Deixamos a vida passar, pois, passamos a ser espectadores de um filme que já passou ou do filme que projetamos para nós no futuro!
Viver as novidades, viver a excitação daquilo que pode ser encontrado em alguma coisa diante de nós aqui-e-agora será se abrir à temporalidade da vida se fazendo! A vida não para de se fazer! A vida não para de se criar e de recriar! Assim, a natureza se faz e se desfaz! Conectar-se com o movimento das transformações, como as águas que descem docemente as correntes de um rio, será colocar a direção do nosso campo de experiência de consciência no puro silêncio de nossa respiração. Deixar o fluxo da inspiração se combinar com o processo lento da expiração. Será reincorporar a mente ao corpo, ou seja, será sentir a reunião daquilo que é tão fluido [nossa mente] se unir àquilo que é extenso e que é tocado permanentemente pela vida através de nossa sensorialidade [nosso corpo].

Abrir-se ao silêncio do presente é uma experiência a ser praticada várias vezes ao dia! Será se abrir ao fluxo da vida, será se renascer de si no instante vindouro, no instante que está a se nascer! Abrir-se ao silêncio do presente é a experiência da criança que está presente em nós, talvez, pela primeira vez! Talvez não seja a sensação da criança que já fomos um dia… mas, uma outra que nascerá enquanto uma sensação de buscar a novidade, o desconhecido, experimentando a vida, como se fosse pela primeira vez!

Aproveite o presente como se fosse pela primeira vez!

Paulo-de-Tarso