Segundo eles, a falta de professores estaria prejudicando o andamento das aulas. Mobilização também busca a criação da Faculdade de Ciências Médicas para terem autonomia
Falta de professores e infraestrutura insuficientes. No ano em que completa os 10 anos do curso de Medicina, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – Campus Macaé é alvo de várias denúncias por parte dos estudantes do curso. Essa semana, um grupo deles procurou o jornal O DEBATE para expor alguns problemas que estariam prejudicando o andamento das aulas.
A falta de docentes em disciplinas importantes estaria afetando estudantes de vários períodos do curso, sendo os do quarto e sétimo períodos os mais prejudicados.
“Nesse semestre estamos sem professores em várias disciplinas. Esse número chega a 28 docentes. Isso afeta os alunos de quase todos os períodos, mas a situação é mais critica nesses dois períodos citados. Basicamente são professores convidados, que se dispõem a darem as aulas. Por exemplo, em Psiquiatria há só um professor que é da disciplina, os demais são psicólogos, ou seja, não são médicos”, diz um dos alunos, que pede sigilo do nome. “Se isso não se resolver até o final desse ano, acreditamos que esses dois períodos não tenham aulas em 2020. Os alunos vão ficar prejudicados devido a falta de professores”, completa.
Segundo algumas informações passadas à nossa equipe, esse déficit seria por conta de que alguns professores, contratados por meio de concursos, teriam dificuldades de radicação em Macaé e, com isso, teriam pedido exoneração. Como não houve novos concursos, não foram contratados novos profissionais para suprir essas vagas ociosas.
Hoje (24), ocorrerá, pela primeira vez em Macaé, uma reunião do Consuni, que é o maior órgão deliberativo da UFRJ, onde os estudantes esperam conseguir debater esses problemas.
“Vai acontecer aqui esse encontro devido aos 10 anos da Medicina e dos demais cursos em Macaé. A gente, como estudante, está se mobilizando para fazer alguma coisa, por mais que não tenhamos voz. Estamos confeccionando cartazes, vendo se algum aluno que tenha voz no Consuni possa falar por nós. Estamos redigindo uma carta e a atual vice-coordenadora vai falar no dia, apontando tudo que está acontecendo”, explica.
Os estudantes esperam conseguir resolver os problemas junto à UFRJ a fim de evitar problemas maiores. “Nosso medo é de que estoure uma greve, assim como ocorreu em 2012. Isso pode acontecer se nada for feito. Praticamente a UFRJ esqueceu da gente aqui em Macaé. Principalmente na Medicina, a gente não consegue avançar em muitas coisas”, lamenta o estudante.
Criação da Faculdade de Ciência Médicas
A questão da infraestrutura administrativa em Macaé engloba a lista de denúncias apresentadas ao jornal O DEBATE essa semana. Isso porque, atualmente, a Medicina funciona junta a outros cursos, como Enfermagem e Nutrição, não tendo autonomia.
“Ela é insuficiente para nós. Há 10 anos fica junto com outros cursos e a gente só perde. Esse ano tentamos nos separar, buscando criar a Faculdade de Ciências Médicas, mas como somos o menor curso no órgão deliberativo do campus, nós perdemos”, relata o estudante alegando que o grupo ainda foi alvo de desrespeito. “Foi um dia horrível para gente. Fomos hostilizados. O coordenador não podia falar que todo mundo ria dele, por mais que ele tentasse mostrar a proposta”, relembra.
Através disso, os estudantes se reuniram e a maioria decidiu que é melhor fundar essa faculdade. “Como já houve essa votação, vamos tentar ir por outras vias, que não seja só por Macaé. Aqui eles querem que a gente fique amarrado a eles porque assim nós não crescemos e eles também não perdem. É uma briga interna de egos que acontecem”, aponta.
Os estudantes acreditam que a criação da faculdade seja uma das melhores soluções a médio ou longo prazo. “É assim que funciona no Rio de Janeiro, que tem a Faculdade de Medicina. Lá é um órgão administrado por um coordenador médico, que tem autonomia para diversas coisas”, conta.
Entre as vantagens dessa separação dos demais cursos facilitariam, por exemplo, as negociações com a universidade e também a firmação de parcerias. “Todos os cursos em Macaé, com exceção do Instituto Nupem, são vinculados a uma única unidade acadêmica na cidade”, finalizou o estudante.
O que diz a UFRJ
Procurada pela nossa equipe de reportagem, a UFRJ disse que a “Reitoria, empossada em julho de 2019, está empenhada na resolução dos problemas de estrutura existentes no campus Macaé Prof. Aloísio Teixeira porque acredita que sua justificativa de existência se deve ao pioneirismo de profissionais ligados à educação que ousaram em interiorizar a UFRJ no Norte Fluminense, onde o principal compromisso da Universidade é com a sociedade brasileira, favorecendo uma formação universitária de qualidade, respeitosa com as mais variadas formas de saber e comprometida com a cidadania.
Quanto à questão da contratação de professores, a Reitoria afirma que colocará a pauta em discussão no Conselho Universitário (Consuni) no mês que vem, que já se aproxima, para resolução imediata a fim de que os alunos tenham a formação UFRJ de excelência, com sua regularidade.
Quanto a infraestrutura, UFRJ esclarece que fará, nesta semana, no Campus Macaé Prof. Aloísio Teixeira, uma sessão solene do Consuni para celebração dos 10 anos de criação dos cursos de graduação de Enfermagem e Obstetrícia, Medicina e Nutrição no campus. Na oportunidade, a Reitoria se reunirá com o corpo diretor e social do polo para tratar de temas relacionados à infraestrutura, visando a resolução.
No que se refere à questão da criação da Faculdade de Ciências Médicas, o tema terá atenção da atual Reitoria e será resolvido. Entretanto, ela diz que o modelo de implantação regimental do Campus Macaé não foi definido, haja vista a necessidade de uma construção coletiva junto ao corpo social do Campus Macaé.