A vida e suas verdades. E assim as crianças vão sendo formatadas para verem, sentirem, compreenderem o mundo, a si mesmas e os outros pelo vício histórico da criação das verdades em cada cultura, em cada sociedade, em cada lugar pelo planeta. As verdades que vão sendo construídas em cada situação sócio-histórico-cultural vão produzindo também arquiteturas afetivas que modelam os nossos modos de ser. Daí possuirmos inúmeras arquiteturas afetivas que foram construídas historicamente, ao longo de nossas vidas, e outras que ainda o serão.
Esta visão nos leva a pensar uma das perspectivas do nosso método da AFETOLOGIA: como construímos na relação com o mundo determinados modos de ser que só se explicam pelo conjunto das emoções, ideias e imagens que formam determinadas arquiteturas afetivas. Sim, uma ideia que nos sobrevém à mente nos afeta de algum modo. Uma lembrança que nos invade através da memória também nos afeta. Uma emoção também nos afeta, pois ela nasce da relação com as ideias, com as imagens que trazemos em nós e, por sua vez, da maneira como nos conectamos com as pessoas no presente, aqui-e-agora!
Voltamos às crianças! Elas vão sendo educadas a sentir o mundo, a perceber o mundo de determinadas maneiras! Sim, de determinadas maneiras! E este projeto de modelização das suas mentes, dos seus modos de sentir, dos seus modos de pensar vão produzindo arquiteturas afetivas, ou seja, modos de ver o mundo, pensar o mundo, de pensar a si mesma, os outros, de se afetar pelos outros, de afetar os outros, seguindo os cardápios das verdades.
Estes cardápios indicam sempre como cada criança deverá ser! Isto na escola, em casa e nas diversas instituições onde as crianças receberão modos pré-determinados de como ser na vida. Claro que as crianças precisam ser educadas. No entanto, a educação afetiva, uma educação que vise um olhar sobre como elas afetam o mundo, sobre os efeitos dos seus gestos, palavras sobre os outros, tudo isto é muito pouco feito nas escolas e na educação familiar.
O que se vê são os cardápios prontos de uma moral que diz o tempo todo o que se devem aprender, como aprender, engolindo as verdades sem diálogo! Se a criança pergunta: “mas, isto não poderia ser assim também?!” Algum adulto viciado no cardápio das verdades poderá responder: “isso é assim, sempre foi assim e sempre o será!”. Imagine como seria receber uma resposta desta! Como isto te afetaria?
Divorciar-se das verdades! Esta ideia foi da minha amiga Carine Ribeiro que, num de nossos diálogos, expressou na velocidade da luz o caminho para a construção de uma vida mais plena, mais sensível e menos enrijecida.
As verdades cortam o fluxo de vida. As verdades cristalizam as emoções. As verdades fixam o olhar sobre o mundo, sobre si, sobre os outros, sobre o que podemos fazer de novo. Com o enrijecimento das verdades a vida passa a ser opaca. A respiração fluida passa a ser uma respiração contida no peito, fechada na angústia de ter a pretensa solidez de alguma certeza e, mais uma vez, o desejo de viver uma vida movida por verdades pretensiosamente ditas como precisas.
Como seria se divorciar das verdades?! Como seria poder sentir, pensar e ser consigo e com os outros a partir de outros pontos de vista? Como seria poder se afetar com outras maneiras de ver o mundo, para ser e estar no mundo compondo a vida de forma vitalizadora para si e para os outros?! Escreva para mim: paulo.tarso.peixoto@gmail.com.
Abraço
Paulo-de-Tarso