CIGARRAS DE MACAÉ – Neste 20 de outubro, apresentamos texto de nosso querido Dilton Pereira, membro de nosso Coro das Cigarras , que nos orgulha muito com seus textos maravilhoso:

Meus primeiros anos (1ª Parte)

DILTON PEREIRA

Nasci em Macaé, cidade que não existe mais, implodida por aqueles que deveriam por ela zelar. Em seu lugar, restou algo, por ironia ostentando o mesmo nome, cheia de edifícios bonitos, grandes lojas, coloridos por um mundão de placas “Vende-se” e “Aluga-se”. Acompanhando a realidade brasileira, tem várias “comunidades “ (nome moderno dado às prosaicas favelas), todas habitadas por gente humilde, honesta e trabalhadora, mas dominadas pelas chamadas “facções”. Enfim, de acordo com o modelo atual brasileiro, é uma cidade autêntica, mas, definitivamente, não é “minha” Macaé.

Cheguei a este mundo em 10-04-1929, quando a Bolsa de Valores de Nova Iorque estava quebrando, arrastando o mundo inteiro para uma crise financeira sem precedentes. Veio a revolução de 1930, Getúlio Vargas assumiu o poder, extinguiu todas as Casas Legislativas, tornando-se ditador. Washington Luiz, conhecido nacionalmente como “paulista de Macaé”, era o Presidente e foi deposto. “Eleição não enche barriga”, dizia Getúlio, e acabou com a dita cuja.

Naquele tempo, os Estados eram governados também por “presidentes”. Todo mundo no olho da rua, até os prefeitos. Os Estados passaram a ser governados por “Interventores”, nomeados por Getúlio, assim como os prefeitos. De acordo com minhas lembranças, Macaé teve três prefeitos nomeados: Télio Barreto, Ivair Nogueira Itagiba e Oyama Pereira Muniz.

Muito criança ainda lembro-me de Télio Barreto e seu cuidado com os jardins e praças; era um apaixonado por flores, e percorria freqüentemente a cidade para conferir o trato dos jardins. Sua residência na Rua Direita, mais ou menos na altura onde hoje instalou-se a Loja Marisa, tinha uma belezura de jardim, com flores variadas e bem cuidadas.

Quanto a Ivair Nogueira Itagiba, guardo na lembrança que era um administrador simpático, falava com todos, e o principal: fiz-me amigo de seus filhos e ganhei o direito de jogar minhas “peladas” em qualquer lugar, mesmo os proibidos.

Agora, Oyama Pereira Muniz, chegou, “chegando”: procurou logo “enturmar-se”, andando pelas ruas e tomando cafezinho. Soube da história de alguém muito popular na época: o barbeiro Nicola, que tinha seu salão no Bairro Cajueiros e adorava comer gato assado ou ensopado. Lá foi o Oyama fazer barba e cabelo com o Nicola. Só não sei se comeu gato.
FIM DA 1ª PARTE

cigarrasmacae@gmail.com <mailto:cigarrasmacae@gmail.com>
Aurora Ribeiro Pacheco