Um servidor da direção central do INSS procurou a Polícia Federal, após receber ameaça de morte por denunciar fraudes em descontos nos benefícios de aposentados e pensionistas. Segundo ele, o alerta surgiu ao identificar irregularidades nos chamados ACTs, convênios firmados com entidades como a Conafer.
O funcionário, que atuava na área responsável por analisar descontos em setembro de 2020, relatou que outros colegas e até diretores também foram ameaçados no período em que a Diretoria de Benefícios investigava os contratos. Ele afirmou que os ataques coincidiram com o envio das auditorias internas para apuração dos descontos “associativos”.
Mesmo com o alerta, a PF só abriu investigação após o episódio e encerrou o caso sem indiciamentos em 2024. Já a Polícia Civil do DF ouviu o servidor em 2021, após denúncias de aposentados sobre descontos ilegais ligados à Conafer. O funcionário relatou aumento “repentino e anormal” no número de filiados da entidade.
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Segundo o depoimento, entre janeiro e outubro de 2020, os descontos da Conafer saltaram de 80 mil para mais de 250 mil beneficiários, mesmo com o convênio suspenso. Em meio às suspeitas, o então presidente do INSS, Leonardo Rolim, transferiu a análise dos contratos para outra diretoria, o que permitiu a reabilitação da entidade.
A Conafer chegou a homenagear o novo diretor, Jobson de Paiva Sales. Em 2023, os descontos da associação somaram R$ 202 milhões, segundo a CGU. Apesar das evidências, a operação da PF contra o esquema só ocorreu em abril de 2025, levando à queda do ministro da Previdência e do presidente do INSS.
O presidente da Conafer, Carlos Roberto Lopes, se recusou a informar ganhos e atribuiu à Dataprev os possíveis descontos irregulares. A PF apura se ele e a esposa usaram os recursos para comprar imóveis, incluindo uma fazenda de R$ 3 milhões. A Conafer não respondeu aos contatos da imprensa.