No cumprimento da missão assumida de escrever textos para esta coluna, tenho procurado fazê-lo abordando assuntos importantes, sérios, alguns razoavelmente complexos. Hoje, todavia, decidi ser mais o aposentado Alfeu e brincar um pouco.
O que vou escrever agora não tem a menor importância, é totalmente inútil e é fruto das observações sem serventia de um velho aposentado. Ou seja, quem não tiver tempo a perder pode parar por aqui. Melhor desligar o celular ou notebook e ir cuidar da vida, que a coisa não está fácil.
Acabei de desenvolver essa teoria sem serventia, mas que suponho interessante para os que, como eu, não vive sem futebol. Aliás, aproveito para perguntar como viveria um aposentado se não existisse o futebol? Como ninguém vai me responder isso agora, vou continuar brincando.
Há alguns anos a minha turma do chope discute e procura explicações para a razão da queda acentuada da performance da seleção brasileira de futebol, nas últimas Copas do Mundo. Discutem sobre táticas, estratégias, convocações, técnicos etc. Tudo em vão porque nunca houve uma teoria unanimemente aceita.
Hoje, todavia, decidi encerrar esse assunto.
Apresentarei a minha tese que, tenho certeza, explicará definitivamente a decadência do nosso esporte bretão (pronto, revelei minha idade). Então, antes que algum dos meus três ou quatro leitores, que admire Machado de Assis, me acuse de estar recriando outro emplastro de Brás Cubas, vamos diretamente a ela.
Começaremos relembrando as escalações das nossas melhores seleções, campeãs mundiais:
Seleção de 1950 (Vice-campeã): Barbosa, Augusto e Juvenal. Bauer, Danilo e Bigode. Friaça, Ademir, Zizinho, Jair e Chico.
Seleção de 1958 (Campeã): Gilmar, Desordi e Belline. Dino, Orlando e Nilton Santos. Garrincha, Pelé, Vavá, Didi e Zagallo.
Seleção de 1962 (Campeã): Gilmar, Djalma Santos e Mauro. Zito, Zózimo e Nilton Santos. Garrincha, Amarildo, Vavá, Didi e Zagallo
Seleção de 1970 (Campeã): Félix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo. Clodoaldo e Gerson. Jairzinho, Pelé, Tostão e Rivelino.
Seleção de 1994 (Campeã): Taffarel, Jorginho, Aldair, Marcio Santos e Branco. Dunga, Mauro Silva, Zinho e Raí. Bebeto e Romário.
Seleção de 2002 (Campeã): Marcos, Lucio, Edmilson e Roque Junior. Cafu, Gilberto Silva, Kleberson e Roberto Carlos. Ronaldinho, Ronaldo e Rivaldo.
E atualmente? Vejamos como são conhecidos os recentes jogadores convocados: Neymar Junior, Vinicius Junior, Lucas Paquetá, Gabriel Jesus, Roberto Firmino, Thiago Silva, Philippe Coutinho, Éder Militão, Gabriel Barbosa, Alex Sandro, Everton Cebolinha, Douglas Luiz, Renan Lodi, Éverton Ribeiro, Gabriel Menino, Léo Jardim, Gabriel Magalhães, Andreas Pereira, Bruno Guimarães, João Gomes, Pablo Maia, Gabriel Martinelli, e por aí vai.
Perceberam? As seleções vitoriosas eram compostas por jogadores conhecidos por apelidos ou nomes próprios. Sobrenomes? Só os da família Santos (talvez por superstição, sei lá eu), como o Nilton, Djalma e o Márcio. Atualmente encheram os campos com jogadores com nomes e sobrenomes e os resultados têm sido desastrosos.
Nos clubes o mesmo fenômeno ocorre, querem ver?
O famoso Santos de Pelé não tinha um único sobrenome: Gilmar, Calvet e Mauro. Zito, Lima e Dalmo. Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe.
Vejamos o meu Vasco: o seu famoso “Expresso da Vitória” era Barbosa, Augusto e Clarel. Ely, Danilo e Jorge. Friaça, Ademir, Ipojucan, Maneca e Chico.
Agora reparem o Vasco que tivemos, disputando a série B do Brasileirão, em 2023: Thiago Rodrigues, Léo Matos, Quinteiro, Anderson Conceição e Edimar. Yuri Lara, Andrey Santos e Nenê. Alex Teixeira, Gabriel Pec e Figueiredo.
Por que no recente campeonato carioca deste ano da graça de 2024, o Vasco se saiu tão mal? Não posso garantir, mas vejam os nomes de alguns jogadores: Léo Jardim, Paulo Henrique, João Vitor, Lucas Piton, De Lucca, Mateus Carvalho, Zé Gabriel, Erick Marcus e outro que tais.
Finalizando, eu recordo que antigamente os times usavam o sobrenome quando havia dois ou mais homônimos no mesmo elenco. Certo, correta e justa maneira de distingui-los. Mas, outro dia, vendo na TV um jogo de uma divisão menor, ouvi o narrador nominar um zagueiro – pasmem! – como Hildebrando Freitas.
Vem cá, você leitor que cheio de boa vontade leu este texto irrelevante até aqui, acredita, verdadeiramente, na possibilidade de um time de futebol escalar, entrar em campo e jogar, em algum lugar no Mundo com dois ou mais Hildebrando?
Por Alfeu Valença
Alfeu Valença é ex-presidente da Petrobrás e fundador da CONPET – Consultoria e Engenharia de Petróleo.