As recentes eleições municipais geraram mil e uma interpretações de arrogantes comentaristas, analistas políticos, cientistas sociais e curiosos. É nesta última categoria que me incluo ao ousar opinar sobre política, assunto que nunca foi minha praia.Começo afirmando que nunca concordei com a interpretação do bolsonarismo como uma ideologia adotada pelos seguidores de Bolsonaro. Sempre entendi que ele apenas se colocou à frente, e deu voz, a pessoas que tinham vergonha de suas arraigadas convicções favoráveis à ditadura militar, à tortura, à xenofobia regional (nordestinos, go home!), ao autoritarismo, ao fechamento do Supremo e do Congresso (viúvas de 1964), e, também, eram contrárias à liberdade de imprensa, às opções sexuais, e à ascensão e prestígio das minorias raciais ou econômicas.Preconceituosas, essas pessoas sempre existiram e, acovardadas, precisavam de alguém para validar os seus valores. Valores que se aproximam bastante dos partidos da extrema direita europeia e como tal podem ser classificados. Seguirão qualquer líder que comungar com suas crenças políticas e econômicas, ou que as tenham mais extremadas e radicais. Pablo Marçal reforçou a minha opinião. Bastou aparecer alguém defendendo posições da extrema direita ultrarradical, para muitos que se diziam bolsonaristas caírem nos braços daquilo que logo será chamado (também erradamente) de “Marçalsismo”.Talvez tenha sido essa a única coisa aproveitável da campanha do primeiro turno em São Paulo: mostrar que o tal bolsonarismo não era tão monolítico como alguns divulgadores faziam parecer, e nem Bolsonaro tinha a envergadura do líder que acreditava ser. A extrema direita raiz existe, sempre existiu e continuará existindo, mas é pequena, pouco influente. Assim como, registre-se, também é pequena a extrema-esquerda brasileira. Lula? Sempre foi mais pragmático do que extremista e, desde que saiu do ABC, se tornou um adepto da centro-esquerda, tendo um ponto em comum com os tucanos, do PSDB, que sempre foram do centro-direita.Então, vamos combinar que, no Brasil, as posições políticas relevantes são: direita, centro e esquerda, e as posições intermediárias entre elas. Os extremos, já escrevi, são irrelevantes. Nas eleições, essa turma do centro faz o vencedor, se movendo mais para um lado ou para o outro, conforme suas convicções na ocasião.Não me referi ao Centrão, porque não é um partido, nem uma ideologia. É uma união volúvel de políticos que se movem ao sabor das ondas do poder, pensando menos nos eleitores e mais em si próprios; infelizmente, são muitos e, atualmente, formam maioria no Congresso Nacional.
Os resultados dessas eleições municipais mostraram que o esquerdismo, apesar de estar no poder maior da República, cresceu muito pouco quando comparado com o número de prefeituras conseguidas pelos partidos do centro e da direita. E por que isso ocorreu? Na minha opinião, várias razões se somaram. De um lado, o PT ainda não entendeu que as suas bandeiras já foram incorporadas pelas camadas mais carentes da sociedade como “direitos adquiridos”, e não méritos do governo vigente. Hoje, são entendidos como obrigações de qualquer governo. Isso se aplica ao Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Farmácia Popular, reajustes do Salário-Mínimo, regimes de Cotas etc. Lembro que muitos eleitores nasceram depois da criação do Bolsa Família. Então, os programas sociais, em qualquer governo, ficaram iguais, e para manter a fidelidade eleitoral daquela parcela da população mais necessitada, o poder central tem que ser criativo e desenvolver novos programas, dentro de um orçamento apertado.Desse modo, uma constatação mundial, e aqui não é diferente, é que as esquerdas não têm sabido se adaptar às novas demandas populares, que desejam menos dependências do Estado e mais oportunidades de empreenderem e crescerem por seus próprios méritos. A direita vem (notem que não me refiro mais à extrema-direita ou extrema-esquerda, pois são eleitoralmente irrelevantes) ocupando esses espaços, assumindo essas bandeiras e prometendo outras. Se cumprirá ou não, só o tempo dirá. Até lá, as massas, como sempre, acreditarão nas promessas.Outra razão, talvez a mais relevante, para o sucesso do centro-direita nessas eleições municipais: as verbas das emendas parlamentares. É comum criticarmos a incrivelmente volumosa verba pública (quase R$ 5 bilhões) financiadora das campanhas e entregues aos partidos políticos. É um absurdo, mas é legal. O que mais me chamou a atenção foi a influência (e a reeleição da maior parte dos prefeitos me dá razão) dessas emendas (PIX, do relator etc.) que inundaram as prefeituras de todo o país (e, talvez, alguns bolsos) com dinheiro suficiente para obras eleitoreiras, a maioria sem nenhuma importância e fora do contexto de um planejamento integrado de desenvolvimento nacional.Por fim, tenho a percepção de que o petismo está se tornando o partido de um homem só, transformando-se no Lulismo, e Lula já não é o mesmo de 20 anos atrás. Quase com a mesma idade dele, eu consigo entender.A partir daí, olhando para 2026, espero que os políticos da direita, do centro-direita, do centro, da esquerda e da centro-esquerda, escoimem os radicais extremistas e os aproveitadores do Centrão, buscando e apoiando um ou mais candidatos bem preparados, para eleger um presidente probo, competente e nacionalista. Mas, o tempo é curto e a minha esperança é pouca.
Por: Alfeu Valença – Original do Portal Tempo Real