Eu sempre entendi a imprensa como uma atividade econômica como outra qualquer, que existe para que seus donos ou acionistas tenham lucro. A imprensa, no seu sentido mais amplo, vende notícias como os açougues vendem carne, os bares vendem bebidas, os hospitais vendem medicina e as padarias vendem pães.

Diferentemente de alguns produtos essenciais como aqueles ligados à saúde, as pessoas “compram” as notícias onde e quando quiserem, com total liberdade. Acreditam, ou não, no que ouvem, veem ou leem, utilizando seus próprios discernimentos e critérios de julgamento, ligados às suas crenças, níveis de educação, posições políticas ou paixões clubistas.

A mim isso parece tão lógico e racional que me recuso a aceitar as críticas mais comuns que escuto sobre esse assunto:

“A Folha e o Estadão só prestigiam o mercado financeiro”, “Globo Lixo”, “A Record existe para empoderar os evangélicos”, “Não vejo, nem leio mais nada. Todos os jornais e revistas estão comprometidos”, “GloboNews e Jovem Pan são farinhas do mesmo saco”, “Isso eles não publicam”, “Só destacam Flamengo ou Palmeiras”.

Vejam que as mesmas pessoas que costumam criticar e cobrar isenção da imprensa quando ela se posiciona contra as suas convicções, fazem contraponto com afirmações elogiosas quando o mesmo veículo concorda com seus pontos de vista. Do outro lado, a imprensa esperneia quando é criticada, sempre se vitimizando, alegando censura e garantindo ser imparcial no esclarecimento à população, sem nenhum outro interesse além de bem informar.

Ambos estão errados.

O público por não aceitar ou perceber o lado comercial da imprensa. E esta por tentar camuflar o lado empresarial, vendendo a ideia de que existe apenas para bem informar com notícias verídicas e opiniões isentas. E em parte, somente em parte, isso é verdade. Por que em parte? Porque a isenção total inexiste num negócio que tem que agradar seus clientes: anunciantes e leitores.

Entretanto, acredito firmemente que a imprensa séria não mente ou inventa notícias. O que ela pode fazer, e certamente faz, conforme sua conveniência, é dar maior ou menor destaque às informações, é omitir detalhes ou insinuar coisas usando o futuro do pretérito. Mas, sempre em torno de notícias verdadeiras, diferentemente das famigeradas fake news que se amontoam nas redes sociais, divulgando calúnias e, conscientemente, forjando ou deturpando fatos.

Por: Alfeu Valença – Original do Portal Tempo Real