*Marcos Espínola

O que aconteceu no Rio de Janeiro no início desta semana nos dá a certeza de que não podemos mais nos dar o luxo de perder tempo sem objetividade. Os atos terroristas ultrapassaram todo e qualquer limite. Independentemente das autoridades e seus partidos hoje no poder e todos os outros que já passaram, a certeza é uma só: não é possível mais manter a segurança pública sob o guarda-chuva político. Essa área não deve ser tratada como uma política de governo, mas, sim, de estado, permanente, com planejamento para longo prazo e “intocável”. Tudo alinhado com o governo federal, pois a violência ultrapassa as fronteiras do estado e do país.

Segurança pública é de extrema importância para a integridade física e mental de todos os cidadãos. Suas diretrizes, estratégias e plano de ação devem estar acima de qualquer ideologia e politicagens, muito menos servindo de moedas de troca para abrigar aliados. Não é possível mais fingirmos que esse modelo atual é plausível.

Pelo contrário. É inadmissível num estado como o Rio, com a capital cercada por áreas dominadas por facções criminosas e milícias, brincarmos de polícia e ladrão. Somos um estado que já tivemos pessoas de tudo quanto é formação à frente dessa pasta que, inclusive, inacreditavelmente foi extinta há quatro anos, como já havia acontecido entre 1983 e 1994.

Ao longo do tempo tivemos iniciativas até promissoras, mas não foram continuadas devido a troca de comando. A democracia é soberana e isso é indiscutível, mas nosso parlamento deve ter em mente que a segurança não pode ficar à mercê de grupos. É primordial o olhar técnico, baseado na inteligência, além de ser essencial a participação ininterrupta do governo federal. Os Estados fazem o que podem, mas drogas e armas vêm de fora.

Em pleno 2023, a morte de um miliciano provocou um dia de terror na Zona Oeste da Cidade, com mais de 35 ônibus incendiados, um trem e carros de passeio. Mais de 10 bairros atingidos por atos terroristas, impactando mais de um milhão de pessoas que perderam o direito de ir e vir.

Vivemos uma guerra, da qual estamos perdendo. O poder paralelo avança e não podemos tratar o cenário caótico que chegamos como se fosse algo pontual nem tampouco considerar o momento para holofotes.

Não fomos pegos de surpresa. Entra governo e sai governo, mas ignora-se o óbvio. Precisamos urgentemente de uma política de segurança de Estado, contínua e blindada de qualquer interferência externa.

*Advogado criminalista e especialista em segurança pública