Há anos o Rio Macaé, manancial responsável por abastecer todo município, vem sofrendo com a falta de saneamento na cidade. Quanto mais o tempo passa mais o local se torna um depósito de esgoto in natura, além de receber outros tipos de lixos, como resíduos tecnológicos, garrafas pets, pneus e muitos outros.
No caso do esgoto, que deveria ter um descarte adequado, simplesmente é lançado no recurso hídrico, causando sua contaminação.
Essa semana a equipe de reportagem do Jornal O Debate flagrou o esgoto jorrando em um dos braços do Rio Macaé. Uma situação, que apesar de comum, fica mais fácil de ser vista quando a maré está baixa. A água não tem mais cor, cada dia está mais escura, além do mau cheiro que paira no local e proximidades. Além do esgoto, lixos também foram flagrados no local.
Contudo é importante lembrar que há alguns anos a previsão do órgão municipal era de que, até o final de 2015, Macaé teria 65% do seu esgoto tratado e que em 2016 todo município contaria com rede coletora e tratamento de efluentes. Mas ao que tudo indica, foram apenas metas projetadas e que não foram cumpridas.
Mas enquanto as devidas providências não são tomadas, o descaso segue evidente. Na altura da Ponte Ivan Mundin, indo para a Barra, por exemplo, é possível observar o quanto o Rio está comprometido, uma vez que continua recebendo dia e noite uma enorme quantidade de dejetos. O manancial está cada vez mais afetado. E apesar de compreender cerca de 1.766 km² e abranger grande parte do município de Macaé e parcelas dos municípios de Nova Friburgo, onde estão localizadas as nascentes, de Casimiro de Abreu, Rio das Ostras, Conceição de Macabu e Carapebus (sendo que, aproximadamente, 82% da superfície da bacia está no município de Macaé), o nível do rio já não tem sido suficiente o bastante para abastecer a cidade que tem enfrentado constantemente a falta de água.
Vale lembrar que na teoria, o saneamento básico “é um direito assegurado pela Constituição e definido pela Lei nº 11.445/2007 como o conjunto dos serviços, infraestrutura e instalações operacionais de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana, drenagem urbana, manejos de resíduos sólidos e de águas pluviais”.
O professor e coordenador do curso de engenharia Ambiental e Sanitária da Faculdade Salesina Maria Auxiliadora de Macaé (FSMA), Marcos César dos Santos explica que, dentre as diversas ameaças à conservação do rio Macaé nas últimas décadas incluem-se: (1) retificação de determinados trechos do rio que culminou com redução de áreas alagáveis fundamentais à avifauna e ao mesmo tempo contribuiu para que o mesmo aumentasse sua velocidade em época de cheias, o que veio a contribuir para um escoamento superficial maior e consequente maior risco de inundação próximo à sua foz; (2) redução das áreas de matas nativas, que foram substituídas por pastagens e outras formas de ocupação, reduzindo a permeabilidade do solo e consequentemente aumentando a turbidez do rio. Além de favorecer enchentes nas épocas de cheias e reduzindo o volume de água durante a seca; (3) introdução de espécies exóticas de peixes; (4) ocupação do manguezal próximo à sua foz; (5) lançamento de esgotos e lixos.
“A busca pela melhoria da qualidade ambiental do rio Macaé deve ser de todos e ser pensada a curto, médio e longo prazo. Podem ser pensadas barreiras ecológicas para retirada do lixo flutuante; coleta e tratamento do esgoto das populações urbanas próximas ao rio; estudos para avaliação da viabilidade de renaturalização do curso do rio e incentivos ao reflorestamento com espécies nativas em toda a bacia do rio Macaé”, enfatiza o docente.
Procurada pela redação do Jornal, a BRK informou que o Rio Macaé faz divisa com os subsistemas Centro e Aeroporto e que o programa de execução de investimentos no sistema de esgotamento sanitário na região está sob avaliação da Prefeitura. Uma vez que o sistema de coleta e tratamento de esgoto estiver implantado, os moradores poderão conectar seus imóveis à rede de esgoto, garantindo a eliminação do descarte irregular de esgoto neste manancial.