Assessora de imprensa macaense, Laís Monteiro tem em seu casting Yuri Marçal, Rei Black, Bruna Braga, empresas de amplitude nacional e espetáculos premiados

“Impulsionar a carreira de pessoas negras é uma forma direta de combater uma estrutura que nos impede de acessar os lugares que deveriam ser nossos. Por isso, cada conquista de um assessorado meu, é uma vitória coletiva”, afirma a jornalista macaense Laís Monteiro, que há sete anos fundou a Monteiro Assessoria de Imprensa. Hoje, a empresa já é referência na comunicação voltada para artistas negros e LGBTQIAPN+, garantindo que esses profissionais ocupem seus merecidos espaços na mídia.

Reconhecida com prêmios como o Selo de Empreendimento Sustentável da Shell Brasil e o Prêmio Olga Neme de Empreendedorismo Feminino, concedido pela Prefeitura de Macaé, Laís já assessorou mais de 350 projetos culturais afrodiaspóricos, impactando mais de 5.000 artistas com a Monteiro Assessoria de Imprensa, que surgiu de forma despretensiosa, mas que se revelou como uma necessidade no mercado. “Eu já trabalhava na área quando recebi um convite para assessorar um espetáculo composto somente por pessoas pretas. Com o sucesso desse primeiro projeto, outros começaram a surgir e foi então que percebi a demanda do mercado por assessoras negras que realmente compreendessem as subjetividades da população preta e pudessem os representar diante da imprensa. Então, a arte me abraçou e me fez enxergar outras possibilidades de mercado”, conta Laís.

A assessora construiu relações duradouras e colabora para a ascensão de diversos talentos, entre eles o ator e humorista Yuri Marçal, um dos grandes nomes da comédia nacional, que lota salas de teatro por todo o Brasil, incluindo apresentações de sucesso em Macaé e região. Yuri fez história ao se tornar o primeiro humorista negro da América Latina a ter um especial de comédia em uma plataforma de streaming, com “Ledo Engano”, na Netflix. Recentemente, também interpretou Mussum na juventude no longa “Mussum, O Filmis”. Para Laís, sua chegada à assessoria foi memorável. “Há quatros anos atrás, quando recebi uma mensagem dele pedindo uma proposta e dizendo que queria ser um dos meus assessorados, eu não acreditei, demorei três dias para responder, em choque. Sempre imaginei assessorar grandes artistas, mas quando o momento chegou, eu demorei pra acreditar, hoje temos uma relação de muita parceria e respeito”, relembra.

Há sete anos, ela também assessora Rei Black, que se tornou conhecido nacionalmente a partir do especial da Globo “Falas Negras”, e atualmente pode ser visto na novela “Beleza Fatal”, da HBO Max interpretando o Rubem, primeiro marido da personagem de Camila Pitanga, e em “Mania de Você”, da Globo como o Gavião. “ Acompanhar e contribuir para a construção da carreira do Rei é muito gratificante, a gente acabou se tornando amigos e parceiros de muitas trocas, ele é um homem de uma visão artística e de uma inteligência gigante que já impulsionou muito o meu trabalho também. O legal é que mais que trabalho, muitos assessorados se tornam amigos”, conta.



Outra história marcante é a de Bruna Braga, humorista que também está na agência há sete anos e conseguiu seu primeiro contrato com a Globo por meio de uma matéria veiculada pela assessoria. “De lá para cá, ela roteirizou o Prêmio Multishow, foi semifinalista do reality LOL – Se Rir Já Era (Prime Video), viveu a Cleide de No Corre (Multishow/Globo) e hoje é jurada do Drag Race Brasil”, enumera Laís.

Outros nomes que fazem parte da história da Monteiro são Vitória Rodrigues, Roger Cipó, Tati Villela, Nando Cunha, Manuela Xavier e Hugo Germano, Junior Melo, Beà, Kenia Maria (ONU Mulheres), o espetáculo “Menina Mojubá”, que lota salas de teatro no Rio de Janeiro, além de projetos como o Encontro das Pretas (ES), segundo maior evento de cultura negra do país e o festival O Corpo Negro (Sesc Rio), . “Um dos marcos mais importantes foi quando André Lemos, da Confraria do Impossível, se tornou o primeiro diretor negro a ganhar o Prêmio Shell de Melhor Direção pelo espetáculo ‘Esperança na Revolta’. Saber que meu trabalho contribuiu para essa conquista histórica é uma satisfação gigante. Depois de André, todos os anos tenho clientes indicados não só ao Shell, mas também a outras premiações importantíssimas no entretenimento, como Festival de Gramado, Festival do Rio, APTR, Prêmio de Humor”, afirma Laís.

Para Laís, o trabalho de assessoria vai além da divulgação: é um compromisso com a transformação social. “A gente precisa estar sempre dez passos à frente, traçando estratégias para minimizar os impactos do racismo estrutural, mas sem deixar a identidade do artista de lado. Eu me guio pelo conceito de Sankofa, um símbolo africano que significa ‘voltar ao passado para reconstruir o futuro’. Precisamos entender a história negra para construir algo novo”, explica.

Cada conquista representa mais do que um reconhecimento profissional – é a validação de uma trajetória construída com esforço e resiliência. “Sou uma jovem negra, de uma cidade do interior que mora em uma comunidade rural. Penso em quantos iguais a mim, tiveram as mesmas oportunidades que eu. Esses prêmios representam não apenas meu trabalho, mas a trajetória da minha família: de uma avó lavadeira, analfabeta, que criou meu pai e mais 5 filhos com dignidade, de uma mãe que só conseguiu cursar ensino superior aos 60 anos e de um pai que trabalhou muito para garantir meu acesso à educação. Minha profissão me leva a lugares luxuosos que, na infância, eu nunca imaginei pisar, pré estreias de filmes, novelas, festas de artistas, marcas, mas entro neles da mesma forma que piso no chão de barro da minha rua: de cabeça erguida, sabendo quem sou e de onde vim”, destaca Laís.

Com a missão de democratizar o acesso à comunicação estratégica, Laís também investe na educação. Em 2023, lançou a oficina “DivulgaÊ Artista”, projeto patrocinado pela Lei Paulo Gustavo, oferecendo formação gratuita para artistas e agentes culturais de Macaé possam potencializar suas carreiras. “Pra mim também é uma forma de devolver a cidade, a arte, tudo que eu recebi. Eu sou fruto da educação pública, meu trabalho também é fruto de políticas culturais e a militância negra me ajudou a enxergar meu lugar no mundo. Nada mais justo que arrumar maneiras de devolver isso às pessoas que precisam desse empurrão. E nos cursos eu aprendo muito com os alunos. A vida é um ciclo, a gente aprende, ensina e aprende ensinando”, reflete.

Além de sua atuação na assessoria, Laís tem ampliado sua contribuição para o setor cultural por meio de eventos e iniciativas que valorizam a arte negra. A cada ano, a celebração de seu aniversário, por exemplo, tem se tornado um evento cada vez maior, reunindo artistas e produtores culturais. “Começou de forma despretensiosa, como uma reunião entre amigos, mas cresceu. No ano passado surgiu a ideia de fazer a festa com o tema ‘Festival Lollapalooza’. A Sheila Juvêncio, produtora e minha amiga pessoal, amou a ideia e quis abraçar comigo. A edição reuniu na line up mais de 20 artistas locais, e todos negros, promovendo cultura e muita música. Além disso, meus assessorados que ainda não conheciam Macaé vieram para celebrar comigo e assim eu coloquei a classe artística na zona rural da cidade. O feedback foi tão positivo que a edição de 2025 já está garantida. Esse ano, serão três dias de celebração e convidados muito especiais. Vejo que não é só uma festa, mas um movimento de valorização da cultura e do turismo local”, frisa Laís.