Todos os anos a Igreja, principalmente na quaresma, recorda e orienta os fiéis a realizarem as práticas penitenciais – oração, jejum e esmola -, que alimentam, educam e enviam o fiel a uma vida mais unida a Deus.
A prática da oração faz a pessoa se unir mais ao Senhor. A oração é diálogo com o Amado, é a confiança do pobre naquele que é o Rico, é a aproximação daquele pequeno com o Grande, e apesar de tantas diferenças, o homem é acolhido por Deus, pois este o trata como filho, como amigo e o homem deve tratá-lo como Pai e amigo. A oração ainda é relacionamento de alguém com Alguém e, nesse contato, o maior beneficiado é o homem, pois recebe do Alto: consolo, força, esperança e amor. São muitas graças que o homem recebe de Deus, assim como o alimento sustenta o corpo a oração sustenta/alimenta a alma.
Quando o fiel pratica o jejum ele está educando sua mente e seu corpo. Por isso, essa prática quaresmal deve ser vivida nessa perspectiva. O jejum educa os apetites, impõe limites… Já reparou que passamos mal porque exageramos em algo que comemos ou bebemos? O jejum ensina a dominar os desejos da carne, a ter controle sobre si e não se deixar controlar pelas vontades.
O jejum educa, forma, já o homem que se deixa dominar pelos alimentos pode acabar vivendo um desequilíbrio em outras áreas (ira, cólera, vaidade, sexualidade). Assim, se ele se deixa educar pelo jejum conseguirá dizer “não” para certas coisas que não convém. Ter um propósito ao jejuar, contar com a graça de Deus e se lembrar sempre do compromisso, ajuda a pessoa a ser fiel. Sem dúvida, será justamente nesse tempo que surgirão alimentos e pecados “deliciosos, bonitos, atraentes e desejáveis”, bons ao paladar, ao ouvido e aos olhos, mas não a alma. Pela graça divina e fugindo da ocasião será possível não ceder à tentação, e melhor ainda, permanecer na graça de Deus.
Na quaresma temos ainda um tempo propício para a missão. O fiel é também enviado a viver a esmola ou a caridade. Deve-se rezar, jejuar, mas também amar. “A fé sem obras é morta” (Tg 2,20), já ensinava o apóstolo Tiago. O tempo quaresmal é um tempo da prática da esmola, de ir ao encontro do necessitado, de dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, dar vestimenta ao nu, visitar os doentes e presos. Viver a prática quaresmal da esmola é já viver o envio do Senhor.
Não precisamos ir tão longe para dar de comer, vestir e dar atenção a alguém necessitado. Bem perto, em casa, no trabalho, na rua encontramos alguém em situação difícil. E se quisermos podemos dar um passo a mais: sair, ir lá onde sabemos que há carentes, que há necessitados e pobres. A caridade é iniciativa de Deus e devemos deixar brotar em nós, quem se descobriu amado por Ele vai, vive o “Ide” de Jesus, vive essa prática não como um peso, mas como algo normal. Assim como é normal de quem está vivo respirar, é normal para o cristão viver a caridade.
Por fim, deixemos esse tempo quaresmal nos envolver, tempo de conversão, tempo em que tais práticas vão nos ajudar na união com a Trindade Santa. Trata-se de uma oportunidade que Deus nos concede para que cresçamos na intimidade com Ele. Por isso, nada de futilidades, de perder tempo em falar ou pensar mal dos outros, mas que seja um tempo forte de ascese, de preocupação com o essencial, tempo de amar a Deus e ao próximo.
* Padre Marcio Prado, natural de São José dos Campos (SP), é sacerdote da Comunidade Canção Nova e Vice-Reitor do Santuário do Pai das Misericórdias.