Grandes empresas petrolíferas se preparam para seguir os passos da Petrobrás e avançar sobre o mercado de geração de energia. Esse modelo de negócio, em que uma empresa produtora de gás natural utiliza o insumo para gerar eletricidade em usinas térmicas próprias, foi inaugurado no Brasil pela estatal em 2001 durante a crise de racionamento de energia. Agora, com o País em meio a uma nova crise hídrica, há 12 projetos com esse mesmo desenho apenas no município de Macaé, no norte fluminense. Três deles já estão em andamento. Em todos, a proposta é aproveitar, principalmente, o gás do pré-sal para ganhar dinheiro com eletricidade.
Essa forma de atuação permitiu que a Petrobrás fosse a única vitoriosa no leilão de energia realizado pelo governo no fim de junho, ao oferecer um deságio de cerca de 50%. A companhia vendeu 162,5 megawatts (MW) médios da térmica de Cubatão, que vão ser entregues em 2025 e 2026. “Tem competitividade quem tem térmica e gás. Então, a Petrobrás é competitiva. Se a demanda do leilão fosse maior, outros grandes concorrentes poderiam ter sido atraídos”, diz Nivalde de Castro, coordenador geral do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), da UFRJ.
Maurício Tolmasquim, professor da Coppe/UFRJ e ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), avalia ainda que o investimento na térmica de Cubatão já deve ter sido quase todo amortizado, o que torna a usina ainda mais competitiva. “O interesse da Petrobrás pode ter sido o contrato de longo prazo para uma usina já existente”, diz.
Batizada, inicialmente, de Euzébio Rocha, a usina de Cubatão foi construída em 2007 para suprir a necessidade da refinaria instalada no município. Apenas um volume excedente de energia é vendido a terceiros. A térmica foi pensada para agregar valor ao gás natural dos campos de Merluza e Lagosta, na Bacia de Santos. Na época, a Petrobrás já contava com um número considerável de térmicas, a maioria delas construídas no Programa Prioritário de Termeletricidade (PPT), criado em 2001, no governo de Fernando Henrique Cardoso, para suprir o déficit de energia.
O aproveitamento do gás natural para a geração de energia ganhou ainda mais importância a partir da descoberta de um grande volume de gás no pré-sal. De olho nesse nicho, a Shell, sócia da Petrobrás no campo de Mero, um dos mais promissores da região, está construindo uma térmica no município de Macaé. A usina Marlim Azul será a primeira a transformar o gás do pré-sal em eletricidade no País. O início da operação está previsto para 2023.
A petrolífera anglo-holandesa tem 29% de participação da Arke Energia, responsável pelo projeto. Ao seu lado estão a Mitsubishi (20%), que também fabrica equipamentos para o setor elétrico, e a sócia financeira Pátria Investimentos, com 51% do capital.
Nova Itaipu
Além desse projeto, a prefeitura de Macaé autorizou o Grupo Vale Azul a instalar duas usinas no município. As novas unidades ainda vão ser ofertadas em leilão e, por isso, não têm data de operação definida. Esse grupo atua principalmente no segmento de engenharia, mas também possui negócios na atividade de petróleo e logística. Um deles é a operação de plantas de processamento de gás natural na cidade do norte fluminense. Pela proximidade com a rede de transporte da NTS e de um terminal de gás natural liquefeito (GNL), a usina vai poder contar com o acesso a insumos de outras origens além do pré-sal.
Macaé tem potencial para se transformar numa “nova Itaipu”, disse o prefeito Welberth Rezende ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, numa reunião, no fim de maio. Na cidade, funciona o terminal de Cabiúnas, que já recebe a maior parte do gás da Petrobrás, e a estatal vai investir em mais uma unidade, com capacidade ainda maior, o que deve transformar o município numa espécie de hub de gás.
Grandes petrolíferas estrangeiras investidoras em campos do pré-sal – como Total, Equinor, CNPC e CNOOC – também são candidatas a formar parcerias em projetos de geração térmica na região.
No Maranhão, a Eneva segue a mesma tendência. A empresa foi pioneira na iniciativa privada ao associar a produção dos seus campos de gás em terra a usinas térmicas construídas próximas a eles. Outra possível parceria é da Exxon, que tem concentrado esforços em campos do litoral sergipano, com a Celse, dona da térmica Porto de Sergipe. Esse projeto, no entanto, ainda é incipiente e não há acordos definidos.