Para mães empreendedoras

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1991

Empreender é um caminho muito solitário. É solitário para você se “auto motivar” diariamente, para a superação dessa jornada e principalmente para as decisões que terão de ser tomadas. Eu acreditava, mas pensava que em algum momento poderia dar errado. Não deu, mas sempre acho que pode dar. Achei que poderia dar errado quando chegasse o primeiro filho. Não deu. Empreendedores têm uma essência mais inquieta e esse ponto forte é, sem dúvida, um motor capaz de fazer a engrenagem funcionar – mesmo com um bebê no colo.

Vi meu projeto de TCC virar meu projeto de vida aos 22 anos de idade. E a maternidade acompanhou todo o processo sem precisar ser adiada. Essa história eu gosto de contar para você que, assim como eu, empreende solitária. Não tenha medo, pois é realmente possível unir as duas coisas. Casei aos 25 anos e engravidei a primeira vez aos 27. Perdi dois bebês e descobri a trombofilia, que me trouxe uma outra jornada: engravidar e continuar mantendo o foco. Depois de 333 injeções dei à luz uma menina – que chegou para completar a família e, claro, ensinar ainda mais a colocar as prioridades no lugar.

Fiz home-office desde que cheguei em casa com ela. Embora tivesse me estruturado internamente, há assuntos que só o dono é capaz de responder pelo seu negócio. E quem empreende sabe que se desconectar do negócio é difícil. Às vezes, aquele projeto que você tanto queria chega na hora mais conturbada da sua vida. E comigo não foi diferente. Vi novos clientes e projetos irrecusáveis chegarem quando ela tinha 45 dias de vida e aquela pessoa que você apostou para te cobrir sair da empresa. Me vi ali, aceitando o crescimento da empresa no momento em que deveria estar assistindo Discovery Kids e acertando a pega da amamentação.

Tive vontade de jogar tudo para o alto, mas já tinha percorrido 8 anos de trabalho e isso me dava um orgulho imenso – sei que ela vai se orgulhar no futuro também. Nunca esqueço que montei um berço do lado da minha mesa, com trocador e mamadeiras, e fiz um processo seletivo amamentando. Por escolha minha, tomei decisões com a realidade que tinha naquele momento. Mais uma vez, tinha a certeza que não daria certo. Deu e não só deu, como foram as melhores profissionais que poderiam estar do meu lado naquela fase. Por isso, cerque-se de bons profissionais para lhe auxiliar nessa etapa. Por mais que você se estruture, imprevistos sempre podem acontecer.

Depois de três meses em home-office com contatos diários por telefone e por vídeo com a equipe, voltei ao escritório alguns dias da semana e fui aumentando gradativamente minhas idas. Mudei a empresa de bairro para estar ao lado do meu maior suporte familiar: os avós. Trabalhava, amamentava, voltava para trabalhar, e vez ou outra levava trabalho para casa quando o prazo apertava.

A rotina é puxada? Sim. Conciliar é difícil? Sim. Dá vontade de surtar? Sim. É perfeitamente compreensível que a tarefa de cuidar de um bebê e de uma empresa é desgastante mas, a decisão do que será melhor só você pode tomar. Eu escolhi dançar conforme a música. Não perdi o prazo dos clientes e nem o prazo da amamentação, dos horários com o pediatra, dos remédios, trocas de fraldas, das brincadeiras, os primeiros passos. Empreender ainda te dá a liberdade de, com o passar dos meses, estabelecer uma nova rotina de horários e de trabalho.

Hoje ela está com quase 2 anos. Sua chegada me ajudou a reestruturar a empresa, a equipe, a marca, o nosso posicionamento e os nossos resultados. Mudei de endereço novamente e escolhi outra cidade, que me permite ter qualidade de vida no trabalho e na vida pessoal. E quando, no auge das emoções, alguém te disser “Calma, essa fase vai passar”, acredite. Ela passa.

* Talita Scotto – Jornalista