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Pandemia e guerra na Ucrânia adiam o fim da ‘era do petróleo’

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A retomada da economia após dois anos de pandemia de covid-19 e a invasão da Ucrânia pela Rússia trouxeram o petróleo de volta para o centro das preocupações mundiais. Desta vez, não pelo mal que faz ao clima do planeta (o que fez petroleiras reduzirem sua produção e investirem na transição energética), mas por sua escassez. A falta do produto elevou de forma severa os preços no mercado e mostrou que a era do petróleo pode durar muito mais do que previam os ambientalistas, que decretaram o seu fim nos próximos 30 anos.

Com a alta dos preços no mercado internacional, a commodity se tornou novamente atraente. A prova disso é a volta muito intensa dos leilões de petróleo em vários países, como revela estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). A estimativa é de que sejam realizados 15 leilões de áreas de exploração de petróleo e gás ao longo deste ano, sendo cinco pendentes de 2021 e 10 novas licitações. No ano passado, foram efetivados apenas seis, sendo dois no Brasil.

“Projeta-se crescimento da aprovação final de projetos greenfield (novos) neste ano e em 2023, e o interesse renovado em áreas de exploração com a recuperação dos preços do petróleo incentivando a realização de novas rodadas de licitação no mundo”, diz o estudo.

Segundo a Rystad Energy, maior consultoria de energia da Noruega, haverá neste ano um aumento de 7% no investimento global em exploração e produção de petróleo, ultrapassando os US$ 300 bilhões. No Brasil, o Ministério de Minas e Energia estima que a produção aumente em 300 mil barris por dia no fim de 2022.

Na avaliação do presidente da Enauta, Décio Oddone, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), havia um cenário muito ruim para a indústria do petróleo nos últimos anos por causa da transição energética, com as petroleiras mudando o portfólio, principalmente as europeias, e reduzindo investimentos em exploração e produção.

“Houve um choque de realidade. A transição energética estava sendo tratada de uma maneira muito idealista, parecia que seria feita de maneira mais rápida, reduzindo a demanda de petróleo e gás, o que não aconteceu. O que vemos nos últimos meses é que não vai ser assim. Estamos vendo um refluxo de interesse por petróleo e gás”, disse.

Segundo o levantamento da EPE, em razão de atrasos provocados pela segunda onda da covid-19, muitos leilões previstos para 2021 terão sua conclusão em 2022, casos de Angola, Noruega, Egito e Malásia. Em alguns, até mesmo leilões programados para 2020 vão acontecer este ano, como no Líbano.

Em 2021, o Canadá realizou duas rodadas de licitação que não tiveram interessados e programa uma próxima para 2023. Já a Índia, país que importa 85% do petróleo que refina, segue realizando leilões regulares com um cronograma bem definido, visando aumentar sua produção doméstica e reduzir sua dependência.

Entre os leilões previstos para 2022, destacam-se as rodadas de concessão na Indonésia, na Malásia, em Angola e nos Estados Unidos, regiões de comprovado potencial offshore (marítimo), que atraem interesse de muitas petroleiras. Embora não haja previsão de leilões neste ano, Noruega e Guiana são regiões que receberão fortes investimentos no setor de exploração e produção.

Caso brasileiro
No Brasil, os tradicionais leilões, que eram realizados desde 1999, foram substituídos pela Oferta Permanente, um banco de dados onde os investidores escolhem as áreas que querem explorar e concorrem por elas. Em abril, o terceiro ciclo da Oferta Permanente foi considerado um sucesso, com a participação de gigantes como Shell e TotalEnergies, petroleiras que vêm diversificando o portfólio para a energia limpa, e de cerca de uma dezena de empresas menores com grande apetite para crescer. O leilão vendeu 59 blocos para exploração e produção, ante 17 da licitação anterior.

O aquecimento do mercado levou o presidente da ANP, Rodolfo Saboia, a anunciar mais uma rodada da Oferta Permanente no segundo semestre, desta vez com 11 blocos da cobiçada região do pré-sal, sob o regime de partilha, sistema em que o governo brasileiro se torna sócio dos investidores.

Em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast, o novo presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, também avaliou que o petróleo não está com os seus dias contados. “Continuo acreditando que ainda por muito tempo vamos continuar precisando do petróleo na matriz energética mundial. Até porque petróleo não é só combustível, petróleo tem uma utilização vastíssima em toda a economia mundial. Ficou muito claro no conflito entre Rússia e Ucrânia que a transição energética deve ser feita com segurança energética”, explicou.

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