O CEO da ExxonMobil, Darren Woods, tem falado cada vez mais sobre o que considera o “dirty secret” do carbono zero, e tudo se resume a uma pergunta. “Quanto vai custar tudo isto e quem está disposto a pagar?” “Não estamos investindo o suficiente em tecnologia,” Woods disse num podcast da Fortune que foi ao ar esta semana. “Da forma como está, não estamos no caminho para emissões líquidas zero até 2050.” Woods disse que, se o mundo quiser chegar ao ‘net zero’ em 25 anos, as pessoas comuns devem “estar dispostas a pagar pela redução de carbono. Hoje temos como produzir combustíveis com menos carbono, mas as pessoas não estão dispostas a gastar dinheiro para fazer isso.” Tampouco as empresas querem. “Poderíamos, hoje, produzir combustível de aviação sustentável para o negócio das companhias aéreas, mas as companhias aéreas não têm condições de pagar.”
Woods assumiu o comando da Exxon em 2017 e está (nitidamente) mudando a forma da petroleira se comunicar – talvez por uma questão de sobrevivência. O próprio CEO da Fortune, um jornalista com quatro décadas de experiência na cobertura de negócios, disse logo na abertura do podcast que a Exxon sempre esteve no topo da sua lista de “press-unfriendly companies”, e se mostrou admirado com a disposição e o engajamento de Woods em falar sobre transição energética por quase uma hora. Woods também foi o primeiro CEO do setor de petróleo e gás a aparecer em uma conferência climática da ONU, quando participou da COP28 no final do ano passado.
Defendeu com unhas e dentes que todos se concentrassem na redução das emissões e não na eliminação progressiva dos combustíveis fósseis. Mas também pela primeira vez na história, um acordo da cúpula climática da ONU apelou para que todos os países façam uma transição energética para reduzir o consumo de combustíveis fósseis. (O apelo não foi de todo ruim para a indústria petrolífera, já que não pede que os combustíveis fósseis sejam eliminados.) A Exxon defende que a indústria petrolífera faça parte desta solução para a transição energética. E botou o dedo no nariz das ONGs. “Francamente, a sociedade e o ativista – a voz dominante nesta discussão – tentaram excluir a indústria, que tem maior capacidade e o maior potencial de ajudar com algumas das tecnologias,” Woods disse no podcast. Mas o CEO da Exxon disse que não vê os investimentos em energia solar e eólica, uma aposta das petrolíferas europeias, como parte da solução.
“Nossa opinião é que não trazemos nenhuma capacidade real para este espaço… Não trazemos outras capacidades além de um talão de cheques. E portanto, não vemos capacidade de gerar retornos acima da média para nossos investidores.” Ele conta que a Exxon está investindo pesadamente na captura aérea direta de carbono, e acabou de construir um protótipo de planta-piloto para tentar reduzir os custos pela metade. “O que aliás, ainda será muito caro”, disse ele. “Mas queremos descer nessa curva, e há muitas empresas por aí tentando fazer avançar a tecnologia neste espaço.
Com que rapidez eles terão sucesso? Não sei a resposta.” Woods também falou sobre os subsídios com o Inflation Reduction Act do Governo Biden, em que empresas foram encorajadas a encontrar soluções energéticas de baixo carbono. “Mas eu diria que construir um negócio com subsídios governamentais não é uma estratégia sustentável a longo prazo – não apoiamos isso,” disse.“Conduzir investimentos significativos em uma escala que chega perto de mover o ponteiro vai custar muito dinheiro.” Apesar de defender que as pessoas comuns também paguem pelas suas emissões, Woods está ciente de que este é um problema até eleitoral.
“As pessoas não podem pagar por isso e os governos de todo o mundo sabem, com razão, que seus eleitores terão preocupações reais,” disse. “Portanto, temos que encontrar uma maneira de reduzir o custo para aumentar a utilidade da solução e torná-la mais disponível e mais acessível para que você possa iniciar a transição.” Mas aqui volta a questão: faltam apenas 25 anos, e a sociedade não está ainda no caminho que leva ao ‘net zero’ de 2050, por uma questão de dinheiro. No fim das contas, talvez Woods tenha razão: ninguém quer pagar. Nem as pessoas, nem a indústria.
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