O empresário João Amoêdo ficou minutos na fila até chegar sua vez de votar, ontem pela manhã em sua zona eleitoral no Rio de Janeiro. Não passou à frente de pessoas comuns como costuma acontecer quando presidenciáveis vão votar. Fechou sua campanha da forma como a conduziu desde o início: tentando se vender como diferente dos políticos “que estão aí”. Estreante na política, desconhecido do eleitorado e único outsider desta corrida presidencial, o candidato do Partido Novo surpreendeu e terminou a eleição entre os cinco candidatos mais votados do primeiro turno.
Com discurso liberal, sem usar recursos públicos e apostando na militância online e nas ruas, Amoêdo viu sua candidatura crescer e sai da eleição com mais força do que entrou. Amoêdo não descarta apoio ao candidato do PSL, Jair Bolsonaro, no segundo turno. Só diz que “não há possibilidade de apoiar o PT”. “O PT se mostrou muito desalinhado com os ideais e as práticas do Novo Vamos ver se existirá apoio ou não a Bolsonaro. Algo muito importante e que sempre destacamos é que nós apoiamos ideias.”
Com 99,89% das seções apuradas, Amoêdo tinha 2,5% dos votos, à frente de nomes como Marina Silva (Rede), terceira colocada nos pleitos de 2010 e 2014. Somou mais de 2,6 milhões de votos, superando também Henrique Meirelles (MDB) e Alvaro Dias (Podemos), que apareciam tecnicamente empatados com o empresário nas pesquisas de intenção de voto. Amoêdo manteve cerca de 2,5% dos votos durante toda a apuração dos votos, sempre na quinta posição, com 2 a 3 pontos porcentuais atrás de Geraldo Alckmin (PSDB). Para Amoêdo, o resultado “superou todas as nossas expectativas e mostra que dá para fazer uma política diferente no Brasil.”
Sua campanha se fortaleceu também com o crescimento da adesão ao partido nos Estados. Em Minas Gerais, Romeu Zema confirmou as pesquisas que apontavam sua tendência de alta e obteve 43% dos votos. Está no 2.º turno na disputa pelo governo estadual. Ele enfrentará Antônio Anastasia (PSDB), que fez 29% (mais informações à pág. A26). Em São Paulo, apesar de ter ficado longe do 2.º turno, Rogério Chequer obteve mais votos que candidatos que participaram de debates televisivos, como Rodrigo Tavares (PRTB) e Professora Lisete (PSOL).
Na comparação com a Rede, o outro partido também criado entre as corridas eleitorais de 2014 e 2018, fez mais, já que Marina ficou para trás e o partido não foi ao segundo turno em nenhum Estado. Para Amoêdo, as eleições deste ano, a primeira do partido, fazem o Novo despontar como uma força política no País. “O Novo está apenas começando. Nosso desempenho foi sensacional”, disse. “Terminamos essa eleição em 5.º lugar, acima de candidaturas consolidadas e tradicionais, tudo sem usar dinheiro público.”
Nas redes
Com 5 segundos em cada bloco do horário eleitoral dos presidenciáveis na TV, em que tentava reforçar a ideia de que não era como os outros, Amoêdo fortaleceu sua imagem na internet Com vídeos diários, o candidato conseguiu mobilizar uma militância online engajada e que tentava formar uma “onda laranja”.
Durante os debates na TV, seus militantes faziam coro protestando contra a ausência de Amoêdo entre os debatedores. Ele não participou de nenhum debate.
Ao todo, sua campanha gastou R$ 5 milhões, quase tudo arrecadado por meio de uma vaquinha virtual. Na reta final da campanha, atacou as “fake news” ao ver nas redes notícias que estaria disposto a desistir de sua candidatura a favor de Bolsonaro – para uma possível vitória do capitão reformado ainda no primeiro turno. Ele acredita que, não fosse isso, teria recebido ainda mais votos. “Tivemos algumas notícias falsas tentando levar votos para decidir no primeiro turno. Achamos isso inadequado”, afirmou ontem, depois de votar.
Em sabatina do jornal O Estado de S. Paulo e FAAP, Amoêdo afirmou que seu partido busca ser mais do que uma legenda antipetista. “Queremos ser uma opção à velha política, dos privilégios, das alianças que são feitas para o processo eleitoral e não para o governo”, afirmou.
Ele ainda disse que seu partido busca práticas e ideias diferentes. “Foi por isso que nos últimos oito anos entramos no mundo político. Nós não enxergamos, no cenário que tem aí, uma opção que gostaríamos de votar. Sempre votei no menos pior e cansei. Ao votar continuamente no menos pior, ele fica muito próximo do pior.”
PSDB
Amoêdo rejeita a ideia de comparar o Novo ao PSDB. Para ele, o “raciocínio” das siglas é muito diferente. Questionado sobre a comparação durante a campanha, ele respondeu que o PSDB estava se associando a nomes como Roberto Jefferson e Valdemar Costa Neto, ambos presos no mensalão, para ganhar poder – e que os tucanos pretendiam se perpetuar no poder se aliando a quem já foi aliado da presidente cassada Dilma Rousseff.
“Nós queremos mudar o que está aí. Já o PSDB está aí há muito tempo e tem uma linha diferente da nossa”, disse o candidato. “Não privilegiamos acordo por tempo de TV. Podemos dizer que os fins não justificam os meios.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.