CIGARRAS DE MACAÉ – Chegamos a 1º de abril, domingo de um Outono que com certeza será maravilhoso. Domingo onde poderemos desfrutar de mais um “causo” de nosso Amigo Genial, Dunga…
COM CUSPE E COM JEITO
Luiz Cláudio Bittencourt
Lá pelos tempos em que o Bar do Bigode ainda funcionava e era meu vizinho de parede, um dos seus clientes achou uma maneira complicada e perigosa de brincar. Comprava umas 50 bombas Cabeção De Nego, sentava em uma cadeira em frente ao bar, e jogava as bombas em quem passasse pela rua, sem nem mesmo conhecê-las. Eram ciclistas, carros, carroças, cachorros e até pessoas a pé. Isso virou um inferno! Era uma confusão: barulheira o dia inteiro, polícia, reclamações e mais um tanto de coisas que quebravam a tranqüilidade do nosso pedaço de rua. E ele continuava sempre firme no propósito do “brincar” – houvesse o que houvesse!
Em nossa casa, minha cunhada, que era portadora da Síndrome de Huntington e já vinha em um grau adiantado da doença, sofria muito com a barulheira causada pelo estourar das bombas. O seu estado emocional ficava drasticamente pior a cada dia, e eu não sabia como iria conseguir convencer o “homem bomba” a diminuir os seus ataques. E a confusão continuava!
Certo dia, bem cedinho quando abriram o bar, vi o momento em que ele chegou – trêmulo e precisando da primeira dose. Um estabilizador emocional de nome Vodka. Fazia parar de tremer na hora! E nesse exato momento, uma luz acendeu em minha cabeça: “Vou tentar sensibilizá-lo!” Abordei-o respeitosamente e perguntei se poderia, antes de beber a primeira do dia, olhar uma coisa dentro de minha casa. Mostrou-se perfeitamente pronto para atender o meu pedido. Conduzi-o, então, ao quarto da minha cunhada, que estava em estado lamentável naquela manhã, e mostrei-a para ele.
Calmamente perguntei se eu poderia fazer um pedido de ajuda, ao que prontamente respondeu que sim. Aí eu disse o seguinte: “A cada Cabeção De Nego que você solta lá fora, o quadro geral dela piora bastante. Peço a você, encarecidamente, que solte apenas umas dez por dia. Isso vai nos ajudar muito!” Ele colocou a mão no meu ombro e disse: “Parei, não vou mais soltar as bombas! Assunto encerrado.” Daí pra frente, ganhamos um novo aliado nas movimentações com a minha cunhada. Sempre que ela chegava do médico, ele era o primeiro a ajudar a tirá-la do carro. Quando sóbrio! E bombas, nunca mais! Nem por procissão!
Um vizinho que também vivenciava a confusão das bombas soube que eu tinha resolvido o problema e veio me perguntar como havia conseguido esta façanha. Expliquei-lhe minuciosamente a maneira pela qual realizei a proeza, o que o deixou muito admirado. Olhou para mim e soltou esta máxima: “Com cuspe e com jeito, come-se até o ‘fígado’ do sujeito!” E até outras partes!
O amigo “bombardeador” faleceu algum tempo depois em um acidente de carro, o que me deixou muito triste. Infelizmente não consegui sensibilizá-lo também quanto aos benefícios do parar de beber – havia me oferecido para irmos juntos aos Alcoólicos Anônimos, mas, mesmo após várias tentativas, o convite nunca foi aceito.
Lembro-me dele sempre com gratidão e amizade.